Título: Crivella disputa apoio de Lula no Rio em 2008
Autor: Durão, Vera Saavedra e Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2007, Política, p. A6

O senador do PRB e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivella almeja a Prefeitura do Rio em 2008. Apesar de pertencer a um partido pequeno, do qual fazem parte o vice-presidente José Alencar e o ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Mangabeira Unger, Crivella tem um grande eleitorado evangélico na cidade. Eleito para o Senado em 2002, recebeu 3,5 milhões de votos.

Sua candidatura à prefeitura do Rio pode vir a contar com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo apurou o Valor, e pode ganhar força face à ausência de pré-candidatos com peso eleitoral nos demais partidos.

"Sou candidato porque na última eleição para Prefeitura do Rio, Cesar Maia (DEM) teve 1,5 milhão de votos e ganhou no primeiro turno. Eu tive 800 mil votos e fiquei apenas a 1,7 mil votos para ir ao segundo turno. O meu partido almeja disputar a prefeitura do Rio por questões lógicas, matemáticas e políticas", disse.

O senador faz parte da base do governo e diz que gostaria de ampliar para o município a união entre os governos estadual e federal. Hoje, o Estado do Rio é um dos mais beneficiados por verbas federais devido à boa relação do governador Sérgio Cabral (PMDB) com o presidente Lula. "Assim como o Estado do Rio, a cidade do Rio precisa entrar nesse entendimento com o governo federal para trazer ao município o que o Estado está recebendo", afirmou.

Crivella é bem recebido pela ala do PMDB do Rio ligada ao presidente regional da legenda, o ex-governador Anthony Garotinho (inelegível por decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro). A questão é por onde vai caminhar o atual governador. Cabral vem conversando com Cesar Maia para uma eventual aliança PMDB-DEM na capital, embora tenha como premissa apoiar um candidato que não faça oposição a Lula. Garotinho chegou a cogitar a troca de partido de Crivella para que se candidatasse pelo PMDB, mas a hipótese foi descartada pelo senador.

O PT do Rio, entretanto, é resistente ao nome de Crivella e já declarou quatro pré-candidatos: o deputado estadual Alessandro Molon, a ex-governadora do Estado e atual secretária estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Benedita da Silva; o candidato para governador nas últimas eleições Vladimir Palmeira e o deputado federal Edson Santos. Mesmo assim, Crivella defende uma aliança com o PT já no primeiro turno, sem abrir mão da cabeça de chapa. O senador vê dificuldades na formação de uma coligação com os demais partidos da base governista no primeiro turno, mas acredita numa união dos partidos "de esquerda" em um eventual segundo turno.

O discurso do pastor que já foi cantor e compositor de dez CDs evangélicos está, de fato, mais alinhado com o pensamento da tendência de esquerda, com críticas aos juros cobrados pelos bancos, à concentração de renda e à má qualidade dos serviços públicos.

Atualmente, ele aguarda a entrada na pauta da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado de um projeto de emenda constitucional (PEC), de sua autoria, que pede a taxação das exportações de produtos básicos, como minério de ferro e alumínio. "Precisamos parar de exportar commodities e passar a exportar produtos com maior valor agregado", afirmou.

Em relação à rejeição por boa parte do eleitorado da classe média carioca por conta da marca religiosa, Crivella diz que isso está diminuindo. "Aceito a opinião de todos, mas tento provar que temos condições de realizar um trabalho político, não religioso", disse.