Título: Grupo de Marta articula Palocci contra Berzoini
Autor: Agostine, Cristiane e Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2007, Política, p. A9

Palocci: articulação visa a pressionar Berzoini por postura de independência face ao governo, mas assessores do deputado negam que ele venha a concorrer O deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho poderá ser lançado candidato a presidente do PT, o que enfraqueceria a candidatura à reeleição do deputado Ricardo Berzoini. Ambos pertencem ao antigo Campo Majoritário. De forma discreta, a candidatura de Palocci é articulada por parte do grupo ligado à ministra do Turismo, Marta Suplicy.

Se a estratégia for adiante, será a segunda vez que os "martistas" terão dois candidatos no processo eleitoral interno do partido. Em 2005, apoiaram simultâneamente Berzoini e o dirigente Valter Pomar, da Articulação de Esquerda. A versão que está sendo divulgada é que o assunto foi levado a Palocci há dois meses.

Na ocasião, o deputado teria se mostrado receoso de retornar a uma exposição pública intensa, depois de um ano em que teve que deixar o ministério da Fazenda sob a suspeita de ter se envolvido na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e atravessou a campanha eleitoral respondendo a acusações de corrupção em sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto.

Por esta versão, ao assumir a relatoria da emenda constitucional que prorroga a CPMF, Palocci teria aceito se submeter a um teste: caso sua volta a um primeiro plano não estimulasse seus adversários a recolocar em discussão as acusações contra si, o deputado e ex-ministro se sentiria em condições de alçar vôos mais altos. Procurado na última sexta, Palocci não foi localizado. Assessores seus negam qualquer articulação do deputado no sentido de se colocar como candidato.

O grupo martista trabalha com outras hipóteses, caso Palocci não se entusiasme com a possibilidade de se apresentar como alternativa a Berzoini. São citados como possibilidades o deputado federal Geraldo Magela, da corrente Movimento PT e ligado ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), além de dois integrantes do próprio grupo da ministra, o deputado estadual Rui Falcão (SP) e o federal Jilmar Tatto (SP).

Os aliados da ministra querem trabalhar com mais de uma alternativa para a presidência do partido como uma maneira de pressionar a Berzoini. Há insatisfação dentro do grupo com uma suposta passividade do dirigente em relação à afirmação do partido face ao governo.

São ligadas à ministra do Turismo duas correntes organizadas dentro do PT: a que usa o título de "Um Novo Rumo para o PT", um grupo exclusivamente paulista que ficou com 19% dos delegados do partido no Estado, integrado por Falcão e pelos deputados federais Cândido Vaccarezza e Carlos Zarattini; a outra é o "PT de Lutas e Massas", comandado pela família Tatto, um grupo de vários irmãos com mandato eletivo, uma tendência também concentrada em São Paulo.

Ambas buscam aproximação com o grupo Movimento PT, de Chinaglia, que teve cerca de 10% dos votos na eleição direta para a presidência em 2005, e com a Articulação de Esquerda, grupo que contou com aproximadamente 14% dos votos. Marta Suplicy já ocupou a vice-presidência do PT, na chapa eleita em 2001, mas hoje formalmente não integra nenhuma corrente.

A eleição direta para a presidência do PT ainda não tem data marcada, mas deve ocorrer ainda este ano. O mandato de Berzoini termina apenas em setembro de 2008, semanas antes da eleição municipal. No Congresso do partido, que começa nesta sexta-feira, o assunto deverá ser votado.