Título: Mercado pode reabrir em setembro, mas com menor apetite por risco
Autor: Lucches, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2007, Finanças, p. C2

A expectativa é de que o mercado internacional reabra para a emissão de eurobônus dos países emergentes em setembro, com o fim das férias no hemisfério norte, se mais surpresas no mercado imobiliário americano não vierem à tona. Mas, estima-se que existam US$ 100 bilhões em transações prontas na fila esperando para serem lançadas, o que poderia provocar, em um primeiro momento, um excesso de oferta. Os créditos de maior risco, que não são grau de investimento, teriam menos aceitação inicial do que os riscos considerados menores. Uma alta nos juros cobrados é dada como certa, embora os analistas ainda não saibam qual será sua dimensão.

Neste momento, mesmo o mercado interno de debêntures, Cédulas de Crédito Bancário e cessão de crédito de maior risco está mostrando sinais de cansaço. Os fundos de pensão e fundos mútuos, grandes compradores desse tipo de crédito, contabilizam perdas e não têm demonstrado interesse em risco nem em operações novas. "Os gestores dos fundos de pensão estão muito ocupados neste momento, olhando o mercado de perto", diz Eduardo Athayde, diretor de tesouraria e captação do Prosper.

Segundo ele, não há sinais de dificuldade de captação para os bancos pequenos e médios. Ricardo Gelbaum, diretor-executivo de finanças e da área internacional do BMG, concorda. Segundo ele, o problema é que ninguém sabe qual é a dimensão real do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. "Os fundos tiveram perdas e se essa situação continuar por muito tempo, nós poderemos ter um impacto real no mercado de crédito interno", afirma o executivo.

Paulo Cesena, diretor financeiro da Construtora Norberto Odebrecht, diz que as operações de empréstimo externo acordadas antes de 26 de julho, quando a crise de crédito chegou às bolsas, ainda estão sendo fechadas normalmente para os melhores créditos. Ele cita como exemplo empréstimo de US$ 430 milhões tomado pela Odebrecht Óleo e Gás para a construção de plataforma de perfuração de petróleo que vai prestar serviços à Petrobras. A empresa recebeu a primeira parcela do pagamento há duas semanas, em operação liderada pelo ABN AMRO, com participação do WestLB, Banco do Brasil, Calyon, Société Générale, BES, Mizuho, Santander, Citibank, Natixis e EDC. Segundo Cesena, são as operações novas, montadas a partir de agora ou ainda em andamento, que terão altas nas taxas de juros.