Título: Empresas quitam dívida externa
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2007, Finanças, p. C1

Empresas e bancos brasileiros com vencimentos de eurobônus neste momento estão quitando a dívida externa com recursos de caixa. Mesmo os bancos médios que pretendiam fazer emissões no exterior para crescer sua carteira de crédito no Brasil tiveram de adiar seus planos de expansão, por causa do estresse no mercado financeiro decorrente do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Mas, diferentemente do que aconteceu em crises anteriores, caixa não é problema para a maior parte das companhias, muitas das quais acabaram de captar recursos por meio de emissões inicias de ações (IPOs).

"Nós começamos este ano com caixa de US$ 600 milhões e já tínhamos como objetivo usá-lo para reduzir nosso endividamento", disse Paulo Cesena, diretor financeiro da Construtora Norberto Odebrecht. A empresa vai resgatar US$ 85 milhões que vencem no início de outubro e não pretende fazer nenhuma nova captação no momento. Em julho, havia até mesmo feito uma oferta pública de resgate antecipado de US$ 150 milhões em títulos da dívida externa que só venceriam em 2009. Detentores de US$ 107 milhões entregaram seus papéis em agosto.

O Cruzeiro do Sul fez pagamento de US$ 5 milhões no dia 2 de agosto e tem liquidez de sobra para pagar os US$ 34,5 milhões que vencem em 31 de outubro, diz Charles Forbes, superintentende-executivo. Acaba de engordar seu caixa com R$ 493,88 milhões obtido em um IPO. Tem espaço para muita alavancagem. Seu capital total está tão gordo que chega a representar 35% dos ativos ponderados pelo risco, quando o mínimo permitido pelo Banco Central no Brasil é de 11%. "Temos recursos e a grande luta é a geração de ativos", diz Charles Forbes.

O Banco Pine, que tem vencimento de US$ 30 milhões hoje, também está capitalizado, com recursos obtidos no mercado de ações. Procurado pelo Valor, o banco não se pronunciou.

O BMG, que apesar de não ter entrado na onda do IPO tem caixa de sobra, também não pretende rolar os US$ 28 milhões que vencem no dia 24 de outubro, segundo Ricardo Gelbaum, diretor-executivo financeiro e da área internacional. "Por enquanto, estamos de radar ligado 24 horas por dia para ver se novos esqueletos vão surgir no mercado imobiliário americano", diz.

O Banco Schahin, com vencimento de US$ 8 milhões no início de setembro, também chegou a pensar em captar no exterior para rolar a dívida e ampliar sua carteira de crédito. O banco também não entrou na onda do IPO e ainda em junho saiu com operação de eurobônus de US$ 100 milhões, com o vencimento em três anos, sob a liderança da Merrill Lynch. Mas, já naquela época, o mercado começou a mostrar sinais de estresse e exigir prêmios de risco de crédito maiores para novos emissores, diz Carlos Eduardo Schahin, o Cadu, diretor-executivo. O banco resolveu então esperar e quitar os títulos neste primeiro momento.

O Banco Prosper havia acabado de montar programa de eurobônus no exterior sob a liderança do Dresdner para começar a vender aos investidores internacionais na primeira semana de setembro. Pretendia captar US$ 100 milhões, para pagar os US$ 20 milhões que vencem no dia 26 de setembro e ampliar sua carteira de crédito. Em conferência com especialistas do Dresdner, Eduardo Athayde, diretor de tesouraria e captação do Prosper, já decidiu atrasar a visita aos investidores internacionais para o final do mês que vem. Considera agora emitir seus papéis em outubro. "Vamos adiar nosso plano de expansão na carteira de crédito por enquanto", diz Athayde. Ele disse que já tinha o pagamento dos US$ 20 milhões programados no seu fluxo de caixa. "Não costumamos contar com o ovo dentro da galinha", afirmou.