Título: EUA buscam aliança com o Brasil para impulsionar etanol
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2007, Agronegócios, p. B12

Os Estados Unidos elevaram a aposta na transformação dos biocombustíveis em uma alternativa concreta para atender parte de suas necessidades por energias renováveis. E reforçaram a escolha do Brasil como parceiro preferencial na tarefa de construir um mercado global para futuras commodities, como o etanol e o biodiesel.

Em visita ao Brasil para monitorar um acordo bilateral na área, o subsecretário de Estado para Assuntos Econômicos, Energia e Agricultura dos EUA, Reuben Jeffery, rebateu ontem as críticas à produção brasileira de etanol, sugeriu o uso da biotecnologia nas pesquisas do setor e defendeu um "casamento" entre os biocombustíveis e as formas tradicionais de agricultura e produção de energia.

"Gostaríamos que a mídia e as ONGs entendessem que as questões ambientais estão sendo levadas em conta para produzir biocombustíveis, de forma consistente e segura, e auxiliar a preservação do meio ambiente", disse ele ao Valor. "Vamos caminhar para fontes de energia mais baratas e de uso mais racional. E o componente tecnológico pode ajudar a relacionar a produção de biocombustíveis ao respeito ao meio ambiente". Para ele, os biocombustíveis são uma "revolução" ao democratizar o suprimento energético. "Alguns países podem controlar sua segurança energética e seu destino, algo que não estavam aptos a fazer antes dos biocombustíveis".

Há dois meses no cargo, Jeffery sugeriu acelerar a evolução de biocombustíveis feitos de matérias-primas alimentícias (milho, soja, beterraba, cana) com o uso de pesquisas da controvertida biotecnologia em ambos os países. "A biotecnologia aplicada a fibras alimentares pode ajudar na migração da produção a partir do milho nos EUA e da cana no Brasil para outras fontes de produção ainda não utilizadas, como gramíneas ou resíduos de celulose", disse. "A ciência é um componente importante que pode ajudar a produzir essa alternativa em grande escala e a torná-la economicamente viáveis".

Ex-presidente da agência reguladora de mercados futuros e opções dos EUA, a CFTC, o subsecretário fez ontem visitas ao vice-presidente José Alencar e ao chanceler Celso Amorim, além de debater o tema com a Comissão de Agricultura do Senado. E deu um recado claro: "O presidente Lula sabe que os EUA estão comprometidos com o desenvolvimento de biocombustíveis de maneira ambientalmente correta". Jeffery afirmou que os EUA apostam na área como forma de "diversificação" de sua matriz energética. "Biocombustíveis são parte de um leque de opções para a diversidade das fontes energéticas. No Brasil, boa parte da energia vem de fontes renováveis, como a hidroelétrica. Para nós, é uma questão de diversificação das fontes em razão de temas ambientais, segurança no suprimento de energia e problemas com instabilidades políticas ou climáticas", disse, em referência à dependência das importações de petróleo do Oriente Médio.

Ao relacionar ações concretas da parceria bilateral, formalizada em março deste ano, Jeffery afirma que o foco está em intercâmbio científico, negociações sobre padrões dos biocombustíveis e incentivo à produção em terceiros países - El Salvador, Haiti, República Dominicana e a ilha caribenha de São Cristóvão e Nevis. "Há soluções como cooperação científica e parcerias do governo com setor privado para construir usinas. Os biocombustíveis democratizam a cadeia de suprimento de energia, podem substituir ou complementar os combustíveis tradicionais e permitem a países e regiões dependentes de importação fazer uma transição para o uso de recursos internos, além de gerar empregos locais", avaliou.

No próximo dia 10, cientistas e especialistas brasileiros em agricultura e etanol visitam laboratórios de pesquisa nos EUA. "Será uma conversa de cientista para cientista, de especialistas em agricultura. É um casamento entre biocombustíveis e as energias e formas tradicionais de agricultura", disse. No caso dos padrões, Jeffery afirma que serão estabelecidas regras para "composição, qualidade e tipos". "Isso é importante para a segurança e a eficiência e para diferenciar em categorias, transformando-as em commodities".