Título: Vale diz que aumento terá impacto de 0,24% na inflação
Autor: Marília de Camargo César e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Brasil, p. A3

A Vale do Rio Doce está buscando mostrar no mercado nacional a vantagem que traria ao país o reajuste de 90% pedido para o minério de ferro e, ao mesmo tempo, minimizar o impacto dessa alta sobre a inflação medida pelo IPCA. Ontem, em entrevista ao Valor, o diretor-executivo de Planejamento da Vale, Guilherme Stoliar, mostrou números que apontam, segundo a análise da companhia, um impacto na inflação da ordem de 0,24% sobre o IPCA, além de ganhos da exportação que beneficiariam as contas externas do país. Pelo lado fiscal, estima R$ 809 milhões a mais que seriam recolhidos em impostos ao governo pela Vale. Na balança comercial, Stoliar destaca que "com esse aumento, a Vale amplia em US$ 4,3 bilhões as exportações e o efeito líquido sobre a balança dobra, com o saldo líquido entre carvão (todo importado) e minério, de US$ 3,3, bilhões para US$ 6 bilhões". Sem o reajuste, essa conta de comércio perderia US$ 1,8 bilhão dos US$ 3,3 bilhões de saldo devido às compras de carvão com preço elevado em 120% . Foto: Marisa Cauduro/Cia de Foto/Valor

Stoliar, diretor executivo: "Com aumento, Vale amplia exportação em US$ 4 bi"

O Brasil é totalmente dependente de carvão e importa 13 milhões de toneladas por ano. O preço do carvão em 2005 passou de US$ 58 para US$ 125 a tonelada. O executivo ressalta que, ao contrário do que declararam as montadoras de automóveis, o impacto do reajuste sobre o preço do aço é baixo e o efeito será praticamente nulo sobre o IPCA. "Vai aumentar marginalmente a expectativa de inflação do mercado para 2005, saltando de um IPCA na faixa de 5,7%, para 5,72%". Segundo ele, a Vale destrinchou os itens que embutem consumo de aço e sua participação no IPCA - habitação, artigos de residência e transporte. "Analisamos em cada um deste itens o seu peso no índice. Numa base 100, pesam 8,4%. Ou seja, 92% da inflação brasileira não é afetada diretamente pelo preço do aço e indiretamente pelo do minério", afirmou. Stoliar informou que para ter uma avaliação mais precisa do efeito na inflação, a Vale encomendou um estudo à Fundação Getúlio Vargas (FGV), uma instituição isenta, que deverá ficar pronto na próxima semana. Segundo o executivo, os números da empresa indicam que as siderúrgicas e usuários do aço, como as montadoras, estão especulando sobre o provável reajuste de 90% ao criar falsas expectativas de aumentos para seus produtos. "As afirmações de que a alta do minério terá impacto de 10% a 15% no preço do aço não é verdadeira", diz. No máximo, direta e indiretamente, o efeito não chegaria a 0,5%. Stoliar lembrou que o preço do minério está parado desde janeiro de 2004, enquanto o aço vem subindo nos últimos dois anos de forma contínua nos mercados interno e externo. "Não aumentamos nem um centavo desde o início de 2004, quando foi reajustado em 19%; já as siderúrgicas se beneficiaram da valorização do real, o que levou a uma queda do preço do minério que é fixado em dólar e chegaram a acumular mais de US$ 200 de margem segundo nossos estudos. O que a Vale quer é uma parte desse ganho. Se for US$ 20 já significa 90% a 100% de reajuste do minério". O reajuste de preço do minério é balizado, a cada ano, em negociações internacionais, que envolve as três grandes do setor e as maiores usinas de aço da Europa e do Japão. lembra Stoliar. No mercado interno, a Vale e suas controladas, como MBR, atendem 70% da demanda, que alcança 53 milhões de toneladas ao ano. Isso significa 34 milhões de toneladas. Em 2004, a empresa produziu 234 milhões de toneladas e exportou 197 milhões. O preço interno para as usinas nacionais é fixado com base no acerto feito internacionalmente, menos o frete. Stoliar observa que, na verdade, os 70% de participação caem para 50% se for levado em conta que boa parte do minério vendido à CST e guseiros é suada para fazer aço para exportação. "Poderíamos abater isso do consumo doméstico". O executivo lembra ainda que s exportações de carvão da Austrália, com o reajuste de 120%, vão dar um salto de US$ 9,2 bilhões nas divisas, para US$ 20,6 bilhões. Por isso, diz Stoliar, a entrada da Vale nesse mercado é estratégica para garantir o equilíbrio no suprimento de carvão e força nas negociações do preços do produto.