Título: BNDES altera linha para eficiência energética
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2007, Brasil, p. A3

Para evitar novos racionamentos de energia como o ocorrido no país em 2001, o BNDES está alterando e ampliando o Proesco, uma linha de crédito criada em 2006 para apoiar projetos de eficiência energética tocados diretamente por empresas ou através das Empresas de Serviço de Conservação de Energia (Escos), segundo Eduardo Bandeira de Mello, chefe do Departamento de Meio Ambiente do banco.

O Brasil tem atualmente um mercado potencial de R$ 20 bilhões para este tipo de negócio, segundo cálculo de Ricardo David, presidente da Associação Brasileira de Escos (Abesco) e principal executivo da Ecoluz, a maior empresa de conservação de energia do país.

"Na Abesco lidamos tanto com energia elétrica quanto com energia térmica (combustíveis fósseis, gás e óleo combustível). Nosso cálculo é que se somarmos o faturamento completo do setor elétrico e da Petrobras chegamos a um número em torno de R$ 200 bilhões ao ano. Se considerarmos que 10% de toda esta energia é desperdiçada estamos falando de R$ 20 bilhões ao ano. A comunidade técnica acha esta conta conservadora. Mas este é o mercado que a Abesco enxerga para investimentos de eficiência energética", disse David. Para ele, o Proesco é um "dinheiro- semente" que vai permitir o desenvolvimento rápido deste mercado.

O Proesco até agora não decolou. Desde sua criação no ano passado, só foram aprovados dois projetos de universidades, somando R$ 2,5 milhões. Mesmo a preocupação crescente com o aquecimento global não animou a procura pelo programa. Para este ano, a meta do BNDES é desembolsar R$ 100 milhões. Bandeira de Melo acredita que isto será possível porque foi removido um gargalo que impedia as empresas de conservação de energia (as "escos") de apresentarem garantias não tradicionais ao banco e agentes financeiros. "A solução foi criar uma espécie de fundo de aval embutido no Proesco", contou Mello.

O mecanismo funciona com um acréscimo de 3% na taxa de juro do Proesco, correspondente a uma comissão que remunera a função de risco do banco e do agente. O custo do Proesco para financiamentos diretos é taxa de juros de longo prazo (TJLP, hoje em 6,25%) mais um spread básico de 1% e mais a comissão de risco de garantia de 3%. No financiamento indireto o tomador paga TJLP mais 1% de spread básico, mais 1% para o banco e mais 3% da comissão de garantia. Um pequeno projeto fica em 11,25% para uma "esco", informou Bandeira de Mello.

O chefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES disse que a parte mais importante do Proesco é financiar as "escos", as empresas que trabalham com projetos de economia de energia. Elas surgiram nos países industrializados nos anos 80. No Brasil, apareceram de maneira tímida na década de 90 e hoje somam 72 empresas - 55 delas filiadas à Abesco. No ano passado, elas faturaram R$ 500 milhões, e este ano podem alcançar R$ 600 milhões.

Elas trabalham economizando energia dos outros. "Como prestadoras do serviço, elas chegam no cliente, identificam as oportunidades de economia de energia, implantam o projeto e se remuneram através de um contrato de performance com cláusula de risco. Estas empresas só recebem pelo serviço quando o cliente estiver economizando energia. É uma consultoria com turnkey", destacou Bandeira de Mello. Segundo ele, como esta empresa investe na planta de terceiros (seu cliente), ela tinha dificuldades para dar garantia real própria, dificultando seu acesso ao crédito no BNDES.

Depois de resolvido este problema, o BNDES está trabalhando na divulgação do Proesco. No momento, mira as empresas de saneamento básico, que segundo Bandeira de Mello, são consumidoras intensivas de energia. Ele contou que a Sabesp, por exemplo, responde por 2% de toda a energia consumida em São Paulo. "Ela consome mais energia que o estado de Tocantins. Aí podemos extrapolar para a Copasa, de Minas, Sanepar, do Paraná, e a Caesbe de Brasília, que estão conversando conosco".

Algumas dessas empresas querem lançar editais de licitação para que as "escos" venham lhes oferecer este serviço. O financiamento dado direto para as "escos" contratadas nas licitações é uma maneira de contornar as limitações que o poder público tem de contratar recursos no banco, destacou Bandeira de Mello. Os técnicos do banco da área ambiental também têm feito "road shows" entre empresas dos setores da indústria e do comércio para aderirem à economia de energia.

Para agilizar ainda mais o Proesco, o banco pretende ampliá-lo. O executivo do meio ambiente informou que enviou proposta à diretoria do BNDES para incluir no programa algumas operações de financiamento para importação de equipamentos de redução do consumo de energia, como controladores de demanda energética e também projetos de repotencialização de usinas, que vão propiciar o aumento de energia do lado da oferta.

Um estudo feito pela Unicamp e pelo International Energy Initiative por encomenda do WWF-Brasil intitulado "Agenda Elétrica Sustentável 2020" revela a existência de um grande potencial para repontecialização de usinas mais antigas no Brasil por meio de adequação, modernização e correção de turbinas e geradores para maior capacidade e eficiência. O estudo estima ser possível num cenário denominado de Elétrico Sustentável acrescentar 15 gigawatts a capacidade instalada no país em 2020 somente via repotencialização de usinas existentes, sem ser preciso construir novas.

Ricardo David, presidente da Abesco, está animado e acredita que a nova carteira do Proesco pode ultrapassar as expectativas dos R$ 100 milhões. Há projetos novos de eficiência energética sendo analisados para empresas como a Oi/Telemar, de shoppings como o Itaiguara, de Salvador, projetos do grupo Pão de Açúcar, de prefeituras municipais, dentre outros. David destaca que o importante é não se perder a disposição adquirida no apagão de energético de reduzir o desperdício de energia no país. Segundo o estudo da Unicamp, a economia de energia feita no Brasil durante o racionamento de 2001 foi de 46.795 GWh, o equivalente a uma retração de consumo de 23,8%.