Título: OMC pode perder relevância, diz Seixas
Autor: Raquel Landim e Francisco Goés
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Brasil, p. A4

Os quatro candidatos, entre eles o brasileiro Luiz Felipe de Seixas Corrêa, na concorrida disputa pelo cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), apresentaram ontem em Genebra suas plataformas para conduzir a instituição nos próximos quatro anos. Seixas Corrêa alertou os representantes dos 148 países sócios da organização para o risco de perda de relevância da OMC e fragmentação das regras do comércio mundial no caso de um fracasso da atual rodada de liberalização comercial, conhecida como Rodada Doha. Seixas defendeu a neutralidade do futuro diretor-geral, mas fez questão de enfatizar como prioridade da rodada a redução das distorções no comércio agrícola mundial e a defesa dos interesses dos países em desenvolvimento. "O futuro da OMC e do próprio sistema multilateral de comércio está inextricavelmente ligado ao resultado desta rodada", alertou. A eleição do diretor-geral da OMC é feita por consenso, sem votação, entre os membros, e uma forte divisão entre países desenvolvidos e em desenvolvimento fez com que a última escolha, em 1999, obrigasse a organização a dividir o mandato, metade para o neozelandês Mike Moore e metade para o tailandês Supachai Panitchpakdi, que deixará o posto em maio. O conflito na escolha do diretor-geral é apontado por alguns analistas como um dos principais fatores responsáveis pelo fracasso da conferência da OMC em Seattle, em 1999. Há, em Genebra, o temor de que um eventual endurecimento da disputa possa afetar os resultados da próxima conferência, marcada para o fim do ano, em Hong Kong. Seixas concorre contra o uruguaio Carlos Perez del Castilho, o ex-ministro de comércio das Ilhas Maurício, Jayen Cuttaree, e o francês Pascal Lamy, ex-comissário de comércio da União Européia. Todos tiveram direito a discursar por 75 minutos para defender suas candidaturas no processo eleitoral, que deverá terminar em março, para que o novo diretor-geral da OMC, empossado em maio, possa ter tempo para preparar adequadamente a conferência de Hong Kong. Na conferência, os países terão de encontrar fórmulas para reduzir os subsídios que distorcem o comércio agrícola, prever a redução de tarifas de importação para produtos agrícolas e industriais e remoção de outras barreiras ao comércio - além da adoção de medidas para atender aos interesses dos países mais pobres. Seixas lembrou que o Brasil é um defensor do multilateralismo e que sua situação como país em desenvolvimento com comércio diversificado o torna sensível a todos os interesses manifestados na OMC. Enfatizou que as divergências não podem levar à mudança do processo de consenso para a eleição do diretor-geral. Lamy, o único candidato do mundo desenvolvido, apoiado publicamente até agora só pelos 25 países da União Européia, defendeu seu papel importante como promotor das reformas agrícolas na Europa que facilitaram o avanço dos interesses dos países em desenvolvimento. Perez del Castillo garantiu ter muitas adesões entre os membros da OMC, e o apoio de todos os países latino-americanos, à exceção do Brasil. Seixas Corrêa, que vai nesta semana a Davos e, em seguida, ao Senegal, para contatar representantes de governos da OMC, se recusou a comentar as declarações do concorrente do Mercosul: "Estou muito confiante, mas não vou ficar contando vantagem pela imprensa".