Título: Empresas já se preparam para mudar regras do comércio bilateral
Autor: Raquel Landim e Francisco Goés
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Brasil, p. A4

Os dirigentes da indústria automobilística têm se reunido com freqüência para discutir mudanças nas regras do regime automotivo do Mercosul. Do lado brasileiro, as empresas reconhecem, nos bastidores, a necessidade de atender à pressão dos argentinos, que reclamam da desigualdade na balança comercial entre os dois países. As fábricas de veículos instaladas na Argentina pertencem às mesmas multinacionais que atuam no Brasil. Os dois lados funcionam sob o mesmo comando, das matrizes européias e norte-americanas, que acreditaram no bloco e que, por isso, em meados da década de 90, reforçaram investimentos nos dois países. A indústria automotiva representa 20% do PIB industrial do Brasil e Argentina somados. Em pouco mais de uma década, as montadoras investiram cerca de US$ 25 bilhões nos dois países, elevando para 4 milhões de veículos a capacidade de produção anual na região. Mas com o início da crise na economia da Argentina, começou também a migração de linhas de produção do país vizinho para o Brasil. Entre as transferências, a que mais chamou a atenção dos argentinos foi na Fiat. A montadora italiana simplesmente parou de produzir automóveis na fábrica de Córdoba, há mais de três anos. Desde então, a unidade limita-se à fabricação de motores e transmissões. A Ford manteve o intercâmbio de modelos entre os dois países mais equilibrada. A fábrica argentina produz as picapes Ranger e o modelo Focus. Mas os maiores volumes de produção da marca estão na Bahia. A Renault, também passou a concentrar a produção no Brasil a partir da crise econômica na Argentina. Recentemente, o vice-governador de Córdoba, Juan Chiaretti, sugeriu a cobrança de imposto de importação para carros da Renault e da Fiat importados do Brasil, como forma de pressionar as duas empresas instaladas na província. No entanto, ao divulgar que vai investir num projeto de uma nova família de veículos compactos para o Mercosul, daqui a um ano, a direção mundial da Renault explicou que três versões serão fabricadas no Brasil e uma na Argentina. A Volkswagen também já anunciou que ali será a base de produção de um novo carro. Pouco antes da virada do ano, a Anfavea e a Adefa, entidades que representam as montadoras de veículos do Brasil e da Argentina, respectivamente, reuniram-se em Buenos Aires para discutir ações para o futuro do setor automotivo do Mercosul.