Título: PSDB investe na vinculação de Lula à imagem do governo
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Política, p. A5

O PSDB decidiu ontem, na reunião da Executiva Nacional em São Paulo agendada para que o prefeito de São Paulo, José Serra, se licenciasse da presidência nacional da sigla, amplificar o tom agressivo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia foi defendida tanto pelo prefeito como pelo presidente en exercício do partido, o senador Eduardo Azeredo (MG). A idéia é "colar a imagem de Lula a de seu governo", segundo sintetizou o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM). De acordo com o deputado Alberto Goldman (SP), sem o ataque agora as chances eleitorais no próximo ano ficam comprometidas. "Ou a gente desnuda Lula agora, ou não vai dar para fazê-lo em 2006. O Lula não pode chegar com esta popularidade no ano da eleição", disse o parlamentar. Foto: Jefferson Coppola/Folha Imagem

Serra e Lula ontem em São Paulo: prefeito cedeu presidência do PSDB a Eduardo Azeredo mas não renunciou ao cargo

A maior contundência nos ataques partiu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma presença rara nas reuniões da Executiva Nacional da sigla. "O PSDB tem que mostrar o que está errado, mostrar a situação do Brasil para os brasileiros. O desemprego em dezembro diminuiu, mas diminuiu pouco. A gastança continua e por isso se segura toda a política fiscal. E aí o que acontece? Tem que subir a taxa de juros. Esta não é uma coisa que o PSDB recomenda", disse o ex-presidente. Segundo Fernando Henrique, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostra desinformação quando se refere ao governo tucano. "O presidente Lula precisa ler mais um pouquinho sobre a história do Brasil, ver os dados. Mas não vou ficar cobrando incoerências", disse. Para o ex-presidente, em um momento de conjuntura internacional favorável "as coisas estão piorando" e o partido falhou em comunicar isso ao eleitorado. "O governo já levou dois anos e o PSDB tem sido muito compreensivo. Houve muita bazófia", disse. Presidenciáveis da sigla, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o de Minas Gerais, Aécio Neves, concentraram suas críticas no aumento das despesas de custeio. "A oposição tem que criticar o aumento abusivo nos gastos do setor público em um momento em que cresce a receita do país", disse o mineiro. "Não tem austeridade do ponto de vista fiscal. Precisamos mostrar a realidade", afirmou o paulista. Segundo o presidente em exercício da sigla, a postura mais agressiva do PSDB levará o partido a fechar questão contra os artigos da medida provisória que aumentaram a tributação do setor de serviços, ao corrigir a tabela do imposto de renda. Azeredo minimizou o fato de Serra não ter renunciado à presidência, preferindo renovar a licença de 90 em 90 dias até o fim do seu mandato, em novembro. "Se ele renunciasse, seria necessário convocar o diretório e haveria complicações burocráticas", afirmou o presidente em exercício.