Título: A ministra baiúcha mão de ferro
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 09/01/2011, Politica, p. 8

Perfil - Luiza Helena de Bairros Nascida no Sul e militante em Salvador, secretária da Igualdade Racial é conhecida pelo perfil rigoroso

Escoltada por imponentes políticos no Salão Negro do Ministério da Justiça, na solenidade de posse da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a nova ministra Luiza Bairros parecia uma respeitável intelectual, porém inofensiva. Quando chegou a sua vez de falar, o sorriso manso deu lugar à verve militante. ¿É preciso evitar a armadilha de considerar que a limitada estrutura de um ministério continue sendo o único espaço onde se aplicam as competências que construímos nos últimos anos¿, chegou reclamando. ¿Que vozeirão!¿, comentaram os convidados. O sotaque gaúcho, aliado ao currículo fortemente ligado à Bahia, garantiu um apelido: baiúcha.

Funcionários do governo da Bahia que trabalharam com Luiza na Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi) afirmam que, de tão exigente, a socióloga é considerada a Dilma Rousseff do movimento negro. ¿Os outros ministros que se cuidem.¿ Os mais próximos, no entanto, relatam que a ministra é ¿doce¿ e conhecida como um mito vivo nas rodas negras da Bahia. ¿Ela educou uma geração inteira para andar de cabeça erguida¿, afirma uma ex-aluna e militante, explicando o estilo de Luiza, muito além das políticas que encaram a inclusão do negro apenas pelo viés dos direitos humanos. A nova ministra prega a participação do negro nas estruturas de poder. O lema é ¿preparar para dirigir¿.

Encanto Durante a ditadura, a filha do militar Carlos Silveira de Bairros viajou a Salvador para participar de um encontro de estudantes de administração. O ano era 1974, ela tinha 21 anos e não conhecia a capital da Bahia. Ficou encantada ao caminhar em uma cidade de maioria negra. Salvador tornou-se o roteiro de férias de Luiza até que, em 1979, decidiu adotar o estado, onde fundou o Movimento Negro Unificado (MNU). O jeito gaúcho intrigava os baianos, mas quando voltava de férias em Porto Alegre surpreendia pelas gírias malemolentes da terra ensolarada. Luiza contava com a compreensão do pai sobre sua atuação revolucionária. A ditadura não reconhecia o racismo e proibia reuniões da militância.

A socióloga levava uma vida boa em Salvador. Diluía a pressão da luta contra o racismo no bloco do Ilê Aiyê e nos longos bate-papos com os amigos no ¿bar do Tampinha¿. O boteco, que ficava perto de sua casa, à época em que morou no bairro da Federação, transformou-se um ponto de encontro da militância negra.

Assim como Luiza, seu fusca amarelo ficou famoso em Salvador na década de 1990. O veículo era usado para levar todos os amigos em casa e nas exibições de filmes em comunidades. O título favorito das projeções era O Assalto ao trem pagador. Com o passar do tempo, reuniu a militância, a vida pública e a acadêmica. A veia intelectual sobressaiu. Depois do doutorado na Michigan State University, investiu em projetos para aproximar os negros à universidade e atuou como representante da Organização das Nações Unidas (ONU). A vida pessoal e os momentos de descontração, a ministra reserva aos amigos, que também são discretos quando o assunto é casamento e filhos. ¿Ela é uma mulher independente, não gosta de falar nisso¿, afirma um amigo.

Jogo rápido Há um movimento de feminilização da Secretaria de Igualdade Racial? Quando criaram órgãos para a promoção da igualdade racial, foram para o homem negro. As políticas para mulheres, para as brancas. Nessa definição, a mulher negra sobra. Deve haver um esforço grande da nossa parte de incorporar no trabalho da Seppir as questões relativas às mulheres negras.

Cota racial no serviço público é uma meta? Existe um decreto que define isso. Foi criado para democratizar a presença negra na estrutura administrativa. Na época, foi feito um censo, que não foi divulgado. Mas quando me refiro ao fato de buscar em todos os ministérios iniciativas emblemáticas, isso não implica que se vá requerer a adoção de cotas em todos os ministérios.

A senhora teve informações desse censo? Pretende realizar um novo? Não. Ele foi realizado no governo passado. Mas é um instrumento importante para diagnosticar determinadas manifestações do racismo. Acho que a gente pode (fazer outro), mas vamos analisar qual é o melhor instrumento a ser utilizado.