Título: Vocês acham que sou ladrão
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2007, Política, p. A7

"Vocês acham mesmo que sou ladrão?". Foi assim que o publicitário Duda Mendonça, reagiu aos gritos de protesto que ouviu ao chegar, cercado por seguranças, à sede das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), centro de São Paulo, na mesma noite em que foi considerado réu no Supremo Tribunal Federal por evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Os alunos que protestavam com gritos de "mensaleiro" e "ladrão" foram retirados à força . Eram, em sua maioria, do diretório acadêmico. Julie Yun, 28 anos, do quarto ano do curso de Direito dizia-se revoltada com a Faculdade: "Estou estudando para combater esse tipo de gente". Joice Ferreira, 21 anos, também aluna de Direito, disse que uma palestra com Duda Mendonça é "um insulto contra a inteligência". Thiago Messias, 25 anos, também exaltou-se: " Somos alunos, não somos trouxas".

Duda não se deixou intimidar pelo protesto: "Ninguém é vencedor sem nunca perder uma guerra. As batalhas só fazem valorizar a vitória final. Paulo Coelho disse que é melhor perder alguns combates do que sequer saber por que se está lutando. O covarde nunca assume culpas por medo de ser punido. Ganhar dinheiro no Brasil é uma vergonha. Nos Estados Unidos seria um caso de sucesso. O que fiz para merecer a vaia desses babacas? Não fui indiciado p... nenhuma nem por peculato nem por formação de quadrilha. Recebi os R$ 10 milhões a que tinha direito e fui na CPI de idiota. Não vale a pena falar a verdade".

Um estudante disse que não admitia que se dissesse ali - o auditório da Faculdade de Direito - que a verdade não vale a pena. "Concordo 100% em tese com seu discurso mas você não sabe o que passei. Não tinha nada no coração e hoje carrego quatro pontes".

O convite era para a aula inaugural do curso de Comunicação sob o título, "A pirâmide invertida, a descoberta das classes C e D". Duda Mendonça disse que, apesar de não estar fazendo a defesa política do governo, era obrigado a reconhecer que "o povão conquistou o direito de sonhar": "Existem aqueles que não se conformam com a força que o presidente tem. Há muito tempo o povão não era contemplado, estava desamparado. As pessoas hoje podem comprar celular, carro e casa".

Edevaldo Alves da Silva, presidente da FMU, disse que a palestra já estava marcada há mais de 50 dias e que ontem tivera a oportunidade de dar um "ótimo exemplo" para os alunos de comunicação. Em nenhum momento disse ter cogitado cancelar a palestra por causa do julgamento: "Não temos nada que ver com esse problema. O valor dele é o que está dentro, a inteligência".

Duda Mendonça saiu sob os gritos de "fora mensaleiro". Aos jornalistas limitou-se a dizer: "Aprendi a ficar calado".