Título: Lula tentará dobrar PT por candidatura da aliança
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2007, Política, p. A7

Muito embora o Palácio do Planalto reconheça ter sofrido algum desgaste com a abertura do processo contra os 40 acusados de organizar e operar o esquema do mensalão, determinada pelo Supremo Tribunal Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu confirmar presença na abertura do 3 Congresso Nacional do PT, na noite da próxima sexta-feira. Para o presidente, é fundamental que o congresso não feche as portas a uma candidatura não-petista em 2010.

A decisão causou incômodo, sobretudo pela acusação de "formação de quadrilha" em relação aos ex-ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo). Os dois eram peças-chave do núcleo dirigente do governo, no início do primeiro mandato de Lula. O presidente, no entanto, não vê na decisão do Supremo, mas na eleição de 2006, como o julgamento do primeiro mandato.

Apesar do incômodo, a avaliação é que a decisão do STF terá mais reflexos no PT que no governo. O Planalto vê até um lado positivo para o governo Lula: se a denúncia do procurador Antonio Fernando de Souza tivesse sido recusada, é possível que se formasse um novo grupo hegemônico dentro do PT, como era o ex-Campo Majoritário na época em que Dirceu dava as cartas no partido. Isso tornaria mais difícil a articulação de Lula para que o PT não feche em torno da candidatura própria em 2010.

O entendimento predominante é que, se o PT tirar uma posição no Congresso em favor da candidatura própria, o presidente Lula perde margem de manobra para negociar a própria sucessão com os demais partidos da coalizão governista. Nada impediria que Ciro Gomes (PSB-CE), por exemplo, comece a trabalhar a própria candidatura, já que o PT decidiu que terá candidato próprio em 2010. Ou mesmo o PMDB, o maior entre os partidos aliados no Congresso.

Lula, segundo apurou o Valor, acha que os partidos da aliança até devem reivindicar a candidatura própria ou apresentar seus nomes. Mas todos devem em seguida desencadear uma negociação para a escolha do candidato com maior viabilidade eleitoral, que não necessariamente deve ser do PT. Nos projetos de resolução apresentados ao 3 Congresso petista, apenas uma das tendências importantes não aborda a questão da candidatura própria - justamente aquele mais vinculada ao presidente da República. Ainda assim, seus integrantes defendem que o candidato deve ser preferencialmente do partido.

O importante para Lula, no momento, é que o 3 Congresso Nacional "não inviabilize" a possibilidade de, mais adiante, o PT venha a decidir não concorrer à presidência da República como cabeça de chapa. Sem um grupo hegemônico, com o poder melhor distribuído entre as diversas tendências do partido, a tarefa teria sido facilitada com a decisão do STF. Não há dúvidas, no governo, de que seria apenas uma questão de tempo Dirceu reassumir o controle do PT, caso a decisão do Supremo fosse outra.

Com a decisão do Supremo, ministros e líderes do governo passaram a comentar o julgamento, o que não faziam até ontem. "O que nós devemos tratar a partir de agora são as estratégias para o futuro", disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), resumiu o sentimento dominante no Planalto: "O governo não tem compromisso com qualquer erro ou irregularidade", disse Jucá. O ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) disse: "Não há conexão com o governo. O presidente Lula não foi candidato deste ou daquele grupo. Foi candidato de uma coalizão de partidos, eleito com mais de 20 milhões de votos sobre o segundo colocado". (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)