Título: Para Dirceu, decisão do Supremo foi injusta
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Fonte: Valor Econômico, 29/08/2007, Política, p. A7

O ex-ministro José Dirceu escreveu ontem em seu blog na internet que a decisão do Supremo Tribunal Federal é "injusta", mas não o surpreende: "Reitero o que sempre afirmei: tive o mandato cassado sem provas e agora sou réu também sem provas. Quero ser julgado o mais rapidamente possível para provar minha inocência".

O ex-ministro disse não haver provas para sua condenação. "Não foram apresentadas provas ou indícios dos crimes dos quais sou agora réu. Foram apresentadas apenas declarações de terceiros e fatos não comprovados, episódios dos quais supostamente participei, supostas ordens que dei". Dirceu disse que o que está em jogo com o julgamento não é a sua pessoa, mas "o projeto político que o PT e o presidente Lula representam": "São tentativas da oposição conservadora e da elite de inviabilizar o governo Lula a todo custo". O ex-ministro e deputado cassado termina seu artigo dizendo não temer o julgamento da Justiça.

O tom de Dirceu contaminou o PT. Com maioria no PT, os grupos mais moderados estão se articulando para minimizar os reflexos da decisão do Supremo. Dirigentes de diferentes tendências defendem que a decisão dos magistrados foi política e evitarão que o tema contamine o Congresso do partido, com início na sexta-feira. Os expoentes partidários se esforçam para evitar o enfraquecimento da legenda e a transferência de poder do partido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo na candidatura própria em 2010.

Na análise feita por dirigentes e integrantes de tendências com maior força na direção partidária, se as tendências mais radicais do PT usarem a decisão dos magistrados do STF contra os ex-presidentes do partido José Dirceu e José Genoino, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-secretário-geral Sílvio Pereira para tentar enfraquecer o ex-Campo Majoritário, isso poderia afetar o partido como um todo. Os ex-majoritários - campo mais moderado e governista - têm a presidência do partido, com Ricardo Berzoini, e as principais cadeiras da Executiva.

O deputado federal Carlos Zarattini (SP), integrante da tendência "Um Novo Rumo para o PT", dissidente dos moderados, diz que a a decisão do Supremo foi injusta. "Não há provas que levem ao indiciamento, muito menos à condenação. Não justifica e muito menos justificará críticas no partido", disse.

Vice-presidente do partido, a deputada federal Maria do Rosário (RS), da tendência de centro "Movimento PT", reforçou que os dirigentes não farão do Congresso um novo tribunal para julgar os ex-dirigentes do PT envolvidos no esquema de mensalão. Maria do Rosário afirmou que os desvios de conduta dos petistas não ficarão no primeiro plano das discussões. "O tema da ética já estava colocado e permanecerá da mesma forma. Nenhum grupo usará a decisão do Supremo como munição para a luta interna."

Além das articulações internas, um evento deverá dar ânimo aos envolvidos no mensalão. Na quinta-feira, os réus deverão receber a solidariedade de dirigentes petistas em São Paulo. Oficialmente será um jantar dos dirigentes com representantes de partidos de esquerda de 16 países. Entretanto, o encontro deve se transformar em ato de desagravo aos acusados.

Desgastado com a crise envolvendo o antigo núcleo político e dirigente do partido, o PT deve fazer de seu encontro no fim de semana um "momento de afirmação partidária". Os dirigentes e delegados farão um esforço para resgatar as bandeiras do partido e garantir que no embate político com Lula a agremiação continue tendo força sobre as decisões centrais - sobretudo em relação a 2008 e 2010. "Vamos começar a construir o nome do PT para a próxima candidatura presidencial", disse Maria do Rosário. "O presidente é sempre ouvido e temos muito respeito por ele. Mas o Congresso é momento de afirmação partidária", afirmou. "Lula tem muito peso, mas não há dúvidas de que o PT terá candidato", reforçou Zarattini.

Para o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), a decisão do STF cria um sério problema para o partido, mas ressalva: "Decisão do Supremo não se discute, se acata. Agora, é um momento difícil do nosso partido".

Já o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que foi presidente da CPI dos Correios, disse que a decisão mostra que a CPI estava certa. Delcídio aproveitou para responder ao ex-ministro José Dirceu, seu colega de partido, que na época reclamou da CPI. "Acho que prevaleceu o resultado da CPI dos Correios. O mérito da CPI dos Correios foi correto. Esse é um julgamento histórico e restabelece a verdade". (CA, com agências noticiosas)