Título: PPS fixa data para Ciro decidir seu destino político
Autor: Henrique Gomes Batista e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Política, p. A6

O destino do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, continua a provocar instabilidade política no PPS. A bancada do partido na Câmara reuniu-se ontem e o presidente do partido, Roberto Freire (PE), enfatizou que a data limite para uma decisão do ministro é o dia 31 deste mês. Freire assegura que não se trata de uma questão pessoal contra o ministro, nem de um "ato de arrogância e agressividade", mas da necessidade de observância das decisões partidárias. "O PPS não vai se transformar em algo amorfo, nem se desmoralizar. Foi tomada uma decisão de partido, pensada e corajosa", alega. Em dezembro passado a Executiva Nacional do PPS decidiu entregar os cargos que possui no governo, oficializando a posição de independência. Um grupo de parlamentares do PPS tenta negociar um armistício entre Ciro e Freire. Até agora não tiveram êxito. O ingresso do ministro numa outra legenda, seja PMDB, PTB ou PSB, está ligado à reforma ministerial e a projetos futuros de Lula, já que Ciro pode vir a integrar a chapa como vice dele na reeleição. Roberto Freire admite que, ao pedir licença, Ciro dará uma demonstração de respeito ao partido. "Se ele toma a atitude de se afastar, não fecha as portas. Mas o silêncio é a demonstração de que procura outra alternativa política", conclui Roberto Freire, para quem o desligamento de Ciro Gomes do partido após 31 é automático. No entanto, a avaliação de parlamentares mais próximos a Ciro é que ele não vai oficializar nenhum pedido de licença agora e deve agir com certo desdém em relação à decisão da Executiva Nacional. O ministro só sairá do PPS numa articulação coletiva, abrigando em outra legenda parlamentares e os governadores do Amazonas, Eduardo Braga, e de Mato Grosso, Blairo Maggi. Eduardo Braga procurou Freire recentemente, dando demonstrações de que quer manter-se na legenda. Integrantes do PPS querem negociar a permanência pacífica de Ciro Gomes na legenda, mesmo que licenciado, assim como ocorreu com Mércio Pereira Gomes, presidente da Funai; e Crescêncio Antunes, secretário nacional de Gestão Participativa do Ministério da Saúde. Ambos oficializaram o pedido de licença dia 18. Em tese, não estão no PPS, mas também não se desfiliaram. Ao analisar a importância de obediência aos princípios institucionais, partidários e republicanos, Roberto Freire mostra mais uma vez a indignação com a interferência do governo nos partidos políticos. Sobre o empenho direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em levar Ciro Gomes para o PMDB, Freire diz que a atitude é no mínimo constrangedora. "Não admitiria que ninguém tentasse decidir sobre as minhas opções políticas e o meu destino", indigna-se. Para o presidente do PPS, a situação "surreal" vivida na sucessão à presidência da Câmara, em que dois candidatos do PT - Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG) - estão competindo, dá aos petistas o que eles sempre plantaram. "O PT, nas suas contradições, consegue o inimaginável em qualquer país democrático: pode ser governo e oposição ao mesmo tempo, e faz isso com a maior tranqüilidade. A Mesa da Câmara deve representar um poder. As disputas políticas se fazem em plenário. Só que o PT nunca entendeu isso. Lula é responsável. O PT sempre jogou com a dissidência, com os avulsos, com o desrespeito às instituições democráticas, e agora aos partidos", dispara Freire. Como exemplo do respeito a regras na política, o presidente do PPS cita o fato de a Democracia Cristã, nos 40 anos que governou a Itália, ter concedido a presidência do Legislativo aos comunistas. É essa lógica, segundo ele, que faz com que apóie o candidato oficial, Greenhalgh, mesmo sendo crítico contumaz do governo. É só essa disciplina, enfatiza, que permite a convivência política dentro de parâmetros constitucionais. (MLD)