Título: Garotinho garante apoio a Virgílio Guimarães
Autor: Henrique Gomes Batista e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Política, p. A6

A candidatura avulsa do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) à presidência da Câmara ganhou ontem um forte viés oposicionista. Virgílio obteve o apoio de Anthony Garotinho, ex-governador e atual secretário de governo fluminense. Além disso, o deputado do PT se reuniu com a ala do PMDB que faz oposição ao governo Lula. Os dois movimentos causaram preocupação e espanto no PT e no Palácio do Planalto. "Já passei para ele o apoio de 30 deputados", sustentou Garotinho. Segundo ele, 18 seriam do PMDB, seis do PSC e os demais de outros partidos. "Ele é o melhor candidato, pois, tudo o que ele tratou com o Rio foi cumprido e nem tudo o que o governo do Rio tratou com o núcleo do governo federal foi cumprido", comparou Garotinho. O deputado mineiro, entretanto, não deve conseguir o apoio da bancada do PSDB. "A vitória de Virgílio, em tese, tornaria a presidência independente, mas sua base é ligada ao governo. Não temos claro qual dos dois petistas poderia ter uma conduta autônoma ao Planalto", disse o deputado Alberto Goldman (SP). Participaram do encontro entre Virgílio e o ex-governador fluminense cerca de 15 deputados. Apenas quatro são considerados da cota de Garotinho. O ex-governador disse que o PMDB deverá fechar questão em favor de Virgílio, em detrimento do candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Ainda ontem, Virgílio encontrou-se com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP). "Temer me recebeu com simpatia e a cautela de um presidente de partido", afirmou Virgílio. A bancada tucana deverá definir uma posição oficial às vésperas da eleição, mas, segundo o presidente em exercício do PSDB, Eduardo Azeredo, a inclinação é por Greenhalgh. "Nossa orientação é seguir o critério da proporcionalidade. O governo tem que decidir isso, é natural que o governo tenha o comando da Câmara", afirmou o senador mineiro. Sem o apoio da maior parte da oposição, Virgílio refutou a tese de que sua candidatura poderia ser oposicionista. "Sou um candidato da Câmara, sou uma pessoa do governo, do PT, e ajudei a construir esse governo", sustentou. No PT, a busca de Virgílio por apoios como o de Garotinho causou espanto. Governistas avaliaram que, ao se aproximar de oposicionistas, Virgílio está cavando a própria derrota. "Quanto mais ele se distancia do governo, pior fica a sua situação", analisou um integrante da cúpula petista que pediu para não ser identificado. "Sempre houve disputa dentro da bancada, mas nunca desse modo. Não há dúvida de que Virgílio causou perplexidade, inclusive na base do partido", afirmou o deputado Paulo Pimenta (RS). O presidente nacional do PT, José Genoino, preferiu não comentar as alianças de Virgílio. "Ele não age em nome nem da bancada e nem do PT", disse. Ele alegou que está confiante na relação institucional com os outros partidos, para garantir a eleição de Greenhalgh. "Em 2003 apoiamos o nome do candidato do PMDB à mesa diretora de forma incondicional, e muitos deputados tinham restrições ao nome de Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para primeiro-secretário, mas honramos a opção do PMDB", disse. A bancada do PPS ficou num impasse ontem e adiou a decisão sobre qual candidato a presidência da Câmara apoiará. Por oito votos a oito, os parlamentares aprovaram um indicativo de que defenderão o princípio da proporcionalidade - ou seja, o que dá ao PT o direito de indicar o candidato-, mas evitaram neste momento citar um nome. A bancada vai se manifestar oficialmente até o dia 14 de fevereiro, data da eleição, após uma reunião em que estejam presentes os 22 parlamentares. O partido está dividido na Câmara. O presidente nacional da legenda, deputado Roberto Freire (PE), defende a candidatura oficial de Greenhalgh, mas o atual líder, Julio Delgado (MG), apóia explicitamente o colega mineiro Virgílio Guimarães (PT-MG). (Colaborou Maria Lúcia Delgado)