Título: O Brasil não vai retroceder, diz presidente
Autor: Ribeiro Alex e ,Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2007, Finanças, p. C2

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem o compromisso do governo com a austeridade, ao comentar a crise internacional em seu programa semanal de rádio, "Café com o Presidente". "O Brasil não vai retroceder", disse.

A crise foi tema da reunião de coordenação política do governo, mas não foi discutido nenhum plano de contingência para lidar com ela. Mantendo a linha adotada desde o acirramento das turbulências nos mercados financeiros, há 11 dias, Lula sustentou que a crise é sobretudo americana. "O Brasil não está com medo dessa crise", disse. "Temos a preocupação natural de um país emergente, como qualquer país emergente deste mundo." Lula reclamou que "parece que têm algumas pessoas que torcem para as coisas não darem certo".

Segundo o presidente, o fortalecimento dos fundamentos macroeconômicos, como o acúmulo de US$ 160 bilhões em reservas, foi obtido graças à disciplina fiscal e monetária. "Queremos que as pessoas continuem acreditando que este país atingiu um índice de maturidade tão grande que não é mais uma coisa eventual, é uma coisa definitiva", afirmou. "Este é um país sério, é um país governado com seriedade, aprendemos a fazer a lição de casa."

De manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez exposição no Palácio do Planalto aos integrantes da coordenação política sobre os riscos - considerados pequenos - de a crise se agravar e os pontos fortes da economia brasileira para enfrentá-la. Não foram discutidas, porém, medidas concretas para o caso de haver uma deterioração ainda maior nos mercados financeiros. Estiveram no encontro a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, o ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia, e o ministro da Justiça, Tarso Genro. A grande ausência foi a do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Fontes do palácio e da área econômica argumentaram que Meirelles não faz parte do grupo de coordenação política e, por isso, não tinha por que comparecer ao encontro. Recentemente, porém, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, participou de reuniões que discutiram o caos aéreo. O discurso oficial é que Mantega e Meirelles estão fazendo trocas de informações sobre a crise internacional.

O presidente do BC passou o dia em São Paulo, fazendo a reunião trimestral com economistas do setor privado. A assessoria de imprensa do BC informou que o encontro estava agendado previamente e não tem nada a ver com a turbulência internacional.

A avaliação de ministros presentes à reunião no Palácio é de que é cedo para medir a extensão da crise financeira mundial - de qualquer forma, o diagnóstico é que, até o momento, é setorizada aos mercados financeiros. "Não temos condições de medir, nesse momento, se estamos diante de uma bolha que estourou, distribuindo perdas aqui e acolá, ou se essa situação afetará de fato a economia real mundial." Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo - um dos presentes à reunião -, a ação dos bancos centrais foram importantes para garantir a liquidez financeira internacional. "O que precisamos, no momento, é acompanhar atentamente e vigiar. Mas não acreditamos que essa crise afetará a economia brasileira."