Título: Diminui diferença de salário entre demitidos e novos contratados
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Brasil, p. A2

O salário médio de quem consegue um emprego com carteira de trabalho assinada hoje é de R$ 635 - 5% maior do que de junho do ano passado, já descontada a inflação. Este valor é menor do que o rendimento médio de quem está saindo do mercado de trabalho, mas o diferencial está se estreitando. A troca de pessoas com salários maiores por trabalhadores que aceitam ganhar menos ainda acontece, mas tem perdido força, já que o salário de quem consegue um emprego cresce em ritmo mais forte ao das pessoas demitidas.

Em junho deste ano, com a alta de 5% no rendimento dos novos contratados e de 1,7% no dos demitidos, a relação entre estes dois salários se estreitou e foi a 0,91. Isso significa que o rendimento médio pago a quem ingressa no mercado de trabalho é 91% do de quem está deixando o mercado. É o melhor resultado desde o início da série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 1992. No final de 2006, o valor era de 89% e no início de 2003, primeiro ano do governo Lula, o salário de admissão era 83,6% do rendimento de demissão. Todos estes valores foram calculados pela LCA Consultores com base nos dados do Caged.

Este movimento é explicado pela crescente formalização do mercado de trabalho, que gera empregos de melhor qualidade e que pagam salários maiores, e pelo aquecimento da economia, que tem estimulado contratações especialmente na indústria. "Em épocas em que a economia está crescendo, a tendência é a diferença entre o salário de admissão e de desligamento se reduzir. Não é à toa que no começo da década essa relação era pior", explica Fábio Romão, da LCA.

Outro cálculo também evidencia um incremento na qualidade dos postos com carteira. No primeiro semestre de 2007, 88,1% desses empregos novos eram para vagas que pagam até 1,5 salário mínimo. Embora ainda seja uma porcentagem muito grande, é menor do que a dos seis primeiros meses do ano passado, quando 92,8% das vagas eram para essa faixa de salário.

Ao mesmo tempo, a participação dos salários maiores na geração de vagas sempre foi negativa, uma vez que havia mais gente demitida do que admitida em cargos de altos salários. Nos últimos meses, essa participação está sendo cada vez menos negativa. Por exemplo, nos seis primeiros meses deste ano, a contribuição das vagas que pagam entre cinco e sete salários mínimos foi negativa em 1,3%, a metade do valor apurado no mesmo período de 2006, que foi de 2,6%.

A perspectiva é que o aumento nos rendimentos dos novos postos continue, já que a economia deve se manter aquecida, o que fará com que as empresas sigam contratando. Em alguns casos, a oferta de trabalho chega a ser maior do que a demanda, já que o Brasil ainda enfrenta um sério problema de qualificação profissional. De acordo com o Caged, somente metade das vagas abertas pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine) é preenchida, devido à falta de trabalhadores qualificados. Na área de serviços, o percentual de aproveitamento é ainda menor: 33%.

Em julho, segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, o emprego com carteira continuou em alta, mas perdeu um pouco de sua força. O saldo entre admitidos e demitidos ficou em 126,9 mil vagas, número pouco abaixo dos 154,4 mil postos abertos em igual mês do ano passado. Ainda assim, entre janeiro e julho deste ano, o saldo já chega a 1,2 milhão de vagas, quase o mesmo número observado em todo o ano de 2006.

A expectativa de Carlos Lupi, ministro do Trabalho, é que 2007 termine com saldo de 1,6 milhão de empregos formais. Para Lupi, a crise dos mercados internacionais não deverá afetar a criação de empregos. Segundo ele, a demanda interna está aquecida o suficiente para compensar uma queda na venda para os Estados Unidos, por exemplo. (Com Agência O Globo)