Título: Metalnave renegocia dívidas com BNDES
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2007, Empresas, p. B8

O grupo Metalnave, proprietário do Estaleiro Itajaí, fechou acordo de repactuação da sua dívida com o BNDES e começa a sonhar com a possibilidade de assinar contrato com a Transpetro para a construção de três navios especiais para transporte de gás. O Itajaí venceu, em março do ano passado, a licitação para construir os três navios, pelo valor total de US$ 130,9 milhões, mas até agora não conseguiu assinar o contrato. A inadimplência com o BNDES era um obstáculo intransponível.

"É nosso desejo construir os navios. Tanto que recorremos à Justiça para ter direito a participar da licitação", disse Frank Wlasek, presidente do grupo Metalnave. A renegociação com o BNDES, concluída nos dias 13 e 15 deste mês, foi um dos últimos passos de um penoso esforço que o grupo vem fazendo para se livrar de um pesado endividamento e retomar suas operações, agora concentrado na construção naval, já que a operação da Metalnave como empresa de navegação foi encerrada.

A dívida total do grupo com o BNDES, segundo dados fornecidos por Wlasek, era de US$ 158 milhões. Desses, US$ 93 milhões eram da Metalnave pela compra de três navios gaseiros ao Estaleiro Itajaí. Esses navios foram vendidos à empresa espanhola Elcano que passou a ser a titular da dívida com o banco estatal. Outra parcela, de US$ 35 milhões, correspondia à compra da frota de rebocadores operada pela Metalnave. Essa frota foi negociada com o grupo CSAV Libra, também com transferência da dívida, de acordo com informações fornecidas por Wlasek.

Sobraram, para serem renegociados diretamente com o banco US$ 30 milhões, sendo US$ 28 milhões da Metalnave, correspondentes a um quarto navio gaseiro que está inacabado, e US$ 2 milhões do Itajaí, referente a uma parte de um empréstimo para ampliação e modernização do estaleiro que acabou sendo interrompido em razão dos problemas financeiros do grupo. Wlasek disse que, apesar de só ter fechado a renegociação agora, desde fevereiro retomou os pagamentos ao BNDES. O banco estatal confirmou a renegociação das dívidas do grupo.

O desafogo em relação aos débitos não significa que o horizonte do grupo Metalnave tenha passado de sombrio a azulado. Ele enfrenta sérios problemas para retomar a produção do estaleiro e, com isso, fazer dinheiro para, inclusive, seguir honrando seus compromissos a longo prazo. Para isso, o grupo precisa obter financiamento e assinar o contrato para os três navios da Transpetro; concluir e vender ou achar meios de operar o navio gaseiro inacabado; e confirmar a encomenda de dois navios porta-contêineres de de 1.700 TEUs (contêineres de 20 toneladas) cada, contratados em 2001 pela empresa de cabotagem Mercosul Line.

Para os navios da Transpetro, a estratégia de Wlasek é buscar um financiamento para assinar o contrato. Ele disse que na situação de adimplente pode recorrer ao BNDES, mas admitiu que pode tentar outra alternativa, inclusive o recurso a outro banco operador do Fundo de Marinha Mercante (FMM), a fonte de recursos para a construção naval no país, como o Banco do Brasil.

O BNDES não quis se pronunciar sobre a hipótese de conceder novo financiamento à Metalnave. Em resposta aos rumores de que a Transpetro já decidiu fazer nova licitação para os navios, Wlasek disse que não recebeu da subsidiária da Petrobras nenhuma sinalização nesse sentido. Consultada, a Transpetro informou que até agora não dispõe de informações oficiais que confirmem estar o estaleiro Itajaí em condições de receber financiamento do FMM. Segundo a estatal, nova licitação dos três navios será realmente feita se o estaleiro não puder ser financiado.

Para concluir o gaseiro inacabado, Wlasek disse que está procurando um parceiro e admite que a própria Metalnave poderá voltar à navegação, operando o barco já batizado de "Metaltanque VI". Resta o maior de todos os imbróglios, o dos dois porta-contêineres.

Quando eles foram contratados, a Mercosul Line pertencia à holandesa P&O Nedlloyd, desde setembro de 2005 controlada pela gigante dinamarquesa Maersk. Segundo Wlasek, como as instalações do Estaleiro Itajaí eram pequenas para os navios, cada um custando US$ 65 milhões a preços repactuados em junho de 2005, foi acertado que a Mercosul emprestaria US$ 14 milhões para as obras de ampliação, já que o empréstimo para essa finalidade fora interrompido. O empresário disse que a Maersk acertou, em dezembro de 2005, a manutenção dos termos dos contratos firmados com a P&O, mas interrompeu o fluxo do empréstimo em maio de 2006.

Wlasek acusa a Maersk de não querer efetivamente os navios, mantendo a contratação apenas para cumprir a legislação brasileira que exige das empresas de cabotagem que tenham navios encomendados em estaleiros nacionais para, até recebê-los, operarem com outros tantos barcos alugados. A Maersk informou que não iria se pronunciar, argumentando que o assunto deve ser discutido entre as duas empresas.