Título: Grupo petista deve anunciar rompimento
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Internacional/Especial, p. A8

Além de se transformar em palco para protestos promovidos contra o PT por partidos e grupos de esquerda, estudantes e ambientalistas insatisfeitos com as políticas implementadas pelo governo federal, o Fórum Social Mundial (FSM) 2005 poderá ser o cenário para uma ruptura em bloco de um grupo de mais de 100 militantes do partido. Entre os descontentes, destacam-se o professor de Economia da Unicamp, Plínio de Arruda Sampaio Jr., e o integrante da diretoria executiva nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Jorge Martins. A idéia de anunciar o rompimento com o PT durante o fórum surgiu há cerca de uma semana, explicou o economista. Desde então, dois documentos foram distribuídos pela internet aos petistas descontentes, um deles defendendo a imediata retirada e outro, a formação de um bloco em dissidência aberta dentro do partido. "O PT deixou de ser o partido da transformação social para ser o partido da administração da ordem neoliberal", resumiu Sampaio Jr. O balanço das adesões às duas posições será feito sexta-feira, em encontro durante o FSM, mas Sampaio Jr. acredita que o contingente de petistas "prontos" para deixar o partido passa de 100 pessoas, ele próprio incluído. O grupo é formado principalmente por sindicalistas e economistas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Já aqueles que por enquanto tendem a permanecer como dissidentes são ligados a correntes como Democracia Socialista e Articulação de Esquerda, que são mais pressionados pelas direções para permanecer no partido. Conforme o economista, ainda não há um "consenso" sobre o destino dos petistas que devem desembarcar do partido, mas a tendência é que eles acabem "desaguando" no P-Sol, organizado pela senadora Heloísa Helena (AL) e pelos deputados Babá (PA) e Luciana Genro (RS) depois da expulsão deles do PT, em dezembro de 2003. Na opinião de Sampaio Jr., o novo partido pode se transformar, no futuro, em uma "frente" da esquerda brasileira. De acordo com Luciana, as conversas com os descontentes do PT remontam ao início das articulações para formar o P-Sol. Na opinião dela, o novo partido é a única "alternativa" para receber o grupo porque é formado por uma "pluralidade" de forças políticas, não adota o centralismo nas decisões e permite o direito de tendência. A expectativa da deputada é que os dissidentes petistas migrem "em massa" para o P-Sol, incluindo, nos próximos meses, aqueles que ainda decidirem permanecer no PT neste momento. Ela não arrisca uma previsão sobre o tamanho da debandada, mas acredita que até setembro o processo deve estar concluído em função dos prazos para os registros de candidaturas às eleições do ano que vem. O descontentamento com o governo do PT não se restringe a militantes mais à esquerda do partido. O coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Cândido Grzybowski, disse que as expectativas criadas com a eleição de Lula não estão se confirmando. "A responsabilidade fiscal não pode significar irresponsabilidade social", comentou. O Ibase foi uma das organizações que convidaram o presidente da República para participar do lançamento da "Chamada Global para a Ação Contra a Pobreza", hoje pela manhã.