Título: Caixa tem lucro 27,6% maior; crédito comercial decepciona
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2007, Finanças, p. C8

A Caixa Econômica Federal registrou um lucro de R$ 1,716 bilhão no primeiro semestre, alta de 27,6% em relação ao resultado apresentado no mesmo período de 2006, segundo balanço divulgado ontem pela instituição. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido apresentou uma discreta melhora, passando de 34,8% para 35,3% no período.

O brilho do resultado financeiro foi parcialmente ofuscado pelo fraco desempenho da Caixa no crédito comercial, segmento em que o mercado bancário cresce a passos largos. A carteira de crédito a pessoas físicas e jurídicas aumentou apenas 8,3%, sempre na comparação entre junho de 2006 e de 2007, chegando a R$ 17,261 bilhões. O sistema financeiro avançou 20,3% no período.

Preocupada com a perda de participação de mercado, a Caixa adotou recentemente um novo modelo de gestão, que, entre outros objetivos, procura dar respostas mais rápidas às inovações no mercado de crédito. "Cortamos níveis hierárquicos e definimos melhor as responsabilidades dentro do banco, para agilizar o processo decisório", afirmou a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho.

O vice-presidente de controle e risco da Caixa, Marcos Vasconcelos, disse que ocorreu uma desaceleração temporária na concessão de empréstimos, enquanto a instituição modificava seus processos internos e reposicionava produtos. A expectativa é que, até o fim de 2007, a carteira comercial volte a crescer a uma taxa anual de 25%, retomando o ritmo vigente até 2005.

O desempenho mais fraco no crédito comercial foi compensado, em parte, com o crescimento um pouco mais vigoroso na área de desenvolvimento urbano. A carteira de crédito à habitação cresceu 23,6%, chegando a R$ 28,916 bilhões, enquanto as carteiras de financiamento ao saneamento básico e infra-estrutura aumentaram 45,8%, chegando a R$ 2,911 bilhões. Assim, a carteira de crédito como um todo avançou 18,5% -percentual mais próximo do sistema financeiro, que cresceu 21,4% no período.

Ainda assim, o avanço foi mais lento do que os grandes concorrentes privados, como o Itaú, que passou a Caixa no ranking de bancos elaborado pelo BC com base nos ativos totais. Maria Fernanda pondera que alguns bancos privados têm crescido rapidamente porque se valeram de fusões e aquisições, medida que está fora do leque de opções dos bancos federais. Ela voltou a negar rumores de possível fusão da Caixa com o Banco do Brasil. "Não existe nenhuma discussão sobre isso na Caixa ou Ministério da Fazenda."

O crescimento do lucro no primeiro semestre foi gerado pelo aumento das receitas com operações de crédito, de 8,3%, que chegaram a R$ 4,522 bilhões. O banco também obteve um expressivo aumento - de 22,1% - nas suas receitas com prestação de serviços, que chegaram a R$ 3,353 bilhões. Vasconcelos disse que não houve aumento das tarifas. "Arrecadamos mais, entre outros motivos, devido à ampliação da base de clientes de cartões de crédito", afirmou.

O banco, por outro lado, conseguiu razoável controle de suas despesas. O gasto com pessoal aumentou só 10,4%, para R$ 3,360 bilhões, apesar de um acordo com o Ministério Público ter obrigado a Caixa a contratar 4,1 mil empregados (alta de 5,8%, para 74 mil funcionários), substituindo mão-de-obra terceirizada. As demais despesas administrativas cresceram 5,5%, pouco acima da inflação, chegando a R$ 2,267 bilhões.

Os dados do balanço mostram uma relativa melhora na qualidade da carteira de crédito. As operações classificadas com notas entre AA e B, que exigem baixos níveis de provisão, subiram de 63% para 67% da carteira de crédito.

A Caixa apresentou avanço expressivo também na captação. Os depósitos em caderneta de poupança cresceram 22,7%, para R$ 66,743 bilhões; os depósitos à vista, 17,2%, para R$ 8,469 bilhões; e os fundos de investimento, 17,4%, para R$ 49,117 bilhões. Os ativos cresceram 19%, para R$ 237,518 bilhões. A Caixa Econômica vai repassar R$ 386 milhões de seu lucro ao Tesouro Nacional, a título de dividendos e pagamento de juros sobre o capital próprio.