Título: Justiça define em breve futuro da Brasil Telecom
Autor: Heloisa Magalhães e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Empresas &, p. B1

Depois do Carnaval, investidores e analistas vão ficar ainda mais atentos à Brasil Telecom (BrT). Pelos menos duas decisões judiciais importantes são esperadas para fevereiro e março. A primeira delas deve sair da 4ª Vara Empresarial do Rio, onde corre um dos processos nos quais a Telecom Italia e o Opportunity discutem a volta dos italianos ao controle da operadora, da qual foram afastados por manterem operação de telefonia celular (TIM) na mesma área da BrT. Fontes ligadas à Telecom Italia dizem que a decisão sai em fevereiro, embora saibam que a sentença seja de primeira instância, ou seja, ainda caberá recurso. Outra decisão importante e que versa sobre o mesmo tema é esperada para março, quando a Câmara de Arbitragem de Londres deverá dar seu pronunciamento final sobre a possibilidade de a italiana ter seus direitos restaurados na operadora, hoje controlada pelo Opportunity. Embora o Opportunity deposite esperanças em uma decisão positiva vinda de Londres, assim como a Telecom Italia espera uma sentença no Rio que a beneficie, sabe-se que as batalhas podem não terminar. As duas terão um novo round, em maio, quando vence o prazo fixado pela Anatel para que ambas cheguem a bom termo. Em função de tantas datas importantes, do avanço das negociações paralelas e, mais do que isso, de sinalizações como a que foi dada pelo acordo entre Citibank e Luis Roberto Demarco, poucos são os analistas e as fontes envolvidas na disputa que não apostam que a solução do conflito societário em torno da BrT esteja com muito mais condições de ser equacionado do que no passado. A operadora de telefonia é o principal ativo dos dois fundos CVC Opportunity (um local e outro offshore), que reúnem fundos de pensão, Citibank e Opportunity. A Telecom Italia também faz parte da estrutura de controle da companhia por meio da Solpart. A complexa estrutura societária tornou-se espaço de complexas e arrastadas disputas, sendo que o Opportunity mantém-se no vértice central, travando conflitos paralelos com a Telecom Italia e os fundos de pensão - liderados pela Previ e Demarco, seu ex-sócio. Enquanto mantém o apoio do Citibank, principal cotista do CVC estrangeiro, do qual é gestor, o Opportunity garante o controle da BrT, uma vez que o CVC local, do qual os fundos de pensão são cotistas, destituíram o banco carioca da gestão, mas possuem apenas cerca de 45% do bloco de controle. Com isso, o Citi tem sido o fiel da balança no controle da empresa. Caso o banco confirme sua intenção de se desfazer da participação, como já manifestou em documento ao qual o Valor teve acesso em 2004, quem conseguir comprar os ativos garantirá o controle. Entre os analistas e as fontes ligadas à operadora, especula-se que tanto a Telecom Italia quanto o Opportunity estariam traçando estratégias. Uma das possibilidades seria a venda da Telemig Celular e da Amazônia Celular, ambas ativos do CVC Opportunity e nas quais os fundos de pensão participam. A venda seria para a Vivo, que vem negociando a compra, ou a própria BrT. Na primeira hipótese, geraria caixa para uma possível compra da parte do Citi no fundo que controla a empresa. Já a venda para a própria Brasil Telecom aumentaria o poder de caixa de um dos fundos geridos pelo banco e com isso daria cacife para uma eventual compra de participação, garantindo o controle na BrT. A principal dificuldade do banco, segundo fonte ligada aos fundos, é a de encontrar um preço de equilíbrio, para não ser questionado pelos minoritários da BrT, nem vetado pelos fundos de pensão. Segundo fonte ligada à operadora, o Opportunity teria encomendado recentemente um laudo de avaliação a um grande grupo financeiro inglês, que calculou o valor das duas empresas em R$ 1,5 bilhão. Fonte ligada aos fundos diz que nenhuma informação oficial sobre proposta de preço chegou à Telemig e à Amazônia Celular. Na visão de um analista, ainda poderia ocorrer um acordo com os fundos para que ficassem na Telemar e saíssem da BrT, na qual o Opportunity se manteria sozinho.