Título: Aliados buscam coligações para 2008 em resposta a apelo de Lula por união
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Política, p. A10

Atendendo a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os 11 partidos que integram a coalizão do governo firmaram o compromisso de fazer "alianças preferenciais" entre os aliados, nas eleições municipais de 2008. O entendimento será tentado nas eleições para as capitais e para as 150 maiores cidades do país. Onde houver mais de um candidato e não for possível conciliar os interesses, os partidos devem assumir o compromisso de apoiar o candidato da base aliada, no segundo turno.

O acerto entre os presidentes de partido deu-se na noite de terça-feira, em reunião seguida de jantar na casa do presidente do PMDB, Michel Temer. Hoje eles se reúnem no Palácio do Planalto para conhecer um esboço de reforma tributária preparado pelo Ministério da Fazenda. Além da aliança eleitoral, os partidos discutiram abreviar a votação do projeto que prorroga a cobrança da CPMF, além de medidas que dêem mais segurança ao troca-troca partidário, com o objetivo de facilitar o esvaziamento da oposição no Senado.

O anfitrião explicou que patrocinara a reunião para atender a um pedido de Lula. O presidente, contou Temer, está preocupado que as eleições de 2008 possam deixar seqüelas capazes de provocar dificuldades para os dois últimos anos de governo e de inviabilizar uma aliança entre os partidos para sua sucessão, em 2010. "Devemos ter pelo menos um espírito de unidade", disse Temer, depois de reconhecer que há dificuldades para a conciliação dos interesses partidários de uma coalizão tão extensa, como é a do governo Lula.

A primeira surpresa dos presidentes de partido foi que todos os 11 compareceram. Mas logo as dificuldades para uma aliança eleitoral envolvendo siglas diversas ficou evidente. Roberto Amara, do PSB, destacou que a diversidade ideológica da coalizão faz com que as razões que levaram os partidos a se aliar nacionalmente não "se repetem no processo municipal". Adiantou que o PSB dará prioridade a acertos com os partidos de esquerda e, na esquerda, com aqueles que integram o "bloquinho" - PCdoB e PDT, entre outros. Ricardo Berzoini, presidente do PT, partido que os demais acusam de ter um caráter "hegemônico", limitou-se a dizer que as alianças eram "importantes" e que os petistas "estavam abertos" às conversas.

Apesar das dificuldades, reconhecidas por todos, os presidentes concordaram em estabelecer como referência que as alianças devem ser tentadas "dentro dos partidos do conselho", como o grupo é referido no Palácio do Planalto, numa referência ao conselho político da coalizão lulista. Nas cidades em que não for possível a coligação, os partidos devem se comprometer a apoiar o candidato da base aliada que for ao segundo turno.

Ficou acertado também que os partidos farão um levantamento sobre a situação das 150 capitais e maiores cidades do país. Isso de imediato, antes da definição das questões municipais, para permitir que as direções nacionais desde já possam negociar soluções de entendimento. O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, sugeriu a criação de uma coordenação. "Para se ter um eixo. De forma espontânea não funciona", disse.

Além dos presidentes dos partidos da coalizão, participaram da reunião na casa de Temer o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, e os três líderes do governo no parlamento: Romero Jucá (Senado), José Múcio Monteiro (Câmara) e a senadora Roseana Sarney (Congresso). Jucá fez um relato sobre as perspectivas de votação da emenda que prorroga a CPMF no Senado. Avalia que será aprovada, mas que a margem de segurança do governo é pequena. Para o líder no Senado, o ideal é que o projeto chegue ao Senado no final de agosto, prazo que ninguém mais considera viável.

A decisão dos presidentes de partidos é no sentido de abreviar a tramitação da emenda que prorroga a CPMF na Câmara, apesar de o assunto não ser um tema fácil até para a base governista. Para facilitar as negociações, o governo pretende enviar ao Congresso o projeto de reforma tributária, em torno do qual seriam discutidas as questões mais polêmicas, como a partilha do imposto do cheque com os Estados e municípios. "A CPMF é uma árvore. A reforma tributária é a floresta", disse Walfrido dos Mares Guia.

Além de não dispor dos 49 votos necessários para aprovar a CPMF no Senado, a coalizão teme que o processo contra o senador Renan Calheiros também contribua para tumultuar a votação. Os partidos vão tentar transformar em lei projeto já aprovado na Câmara que dá mais segurança ao troca-troca partidário. A expectativa do governo é atrair para siglas aliadas quase uma dezena de senadores, a maior parte deles do DEM, o antigo PFL.