Título: Lula compara programa Luz para Todos a dedo de Deus
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Política, p. A12

Ao participar ontem de manifestação apoiada e patrocinada por três órgãos públicos e três estatais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a atacar as elites e os críticos do seu governo. Entusiasmado, o presidente comparou o programa Luz Para Todos com o "dedo de Deus", fez referência crítica e tácita ao Movimento "Cansei" e avisou que a reforma da Previdência em gestação em seu governo não mexerá nos direitos de aposentados e trabalhadores rurais.

"Sei que tem muita gente incomodada e vão se incomodar muito mais porque nós vamos fazer muito mais", disse Lula ao participar da "Marcha das Margaridas", manifestação que reúne trabalhadoras rurais. A participação do presidente foi discutida no governo ao longo de toda terça-feira, mas a confirmação só veio no meio da manhã de ontem, alterando a agenda oficial. Lula chegou por volta das 14h ao pavilhão ExpoBrasília, onde aconteceu a manifestação, distante cerca de oito quilômetros do plenário do STF, onde o procurador Antônio Fernando de Souza e os advogados de José Dirceu, José Genoino e outros debatiam a denúncia dos 40 envolvidos no escândalo do mensalão.

Aplaudido pelos participantes da marcha - 30 mil, de acordo com os organizadores e 14 mil segundo cálculos da Polícia Militar -, Lula abriu sua fala fazendo um ataque tácito ao Movimento Cansei, de São Paulo. "O Brasil não está habituado a isso. Se fossem mulheres e homens de outros segmentos da sociedade, de maior posse, isso seria visto como uma coisa normal. Afinal de contas, as pessoas podem pagar passagem para vir de avião e podem vir de carro."

Lula prosseguiu seu discurso reclamando daqueles que acusam o governo de ter "financiado a marcha de ontem". O evento teve, de fato, o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, da Secretaria Especial de Igualdade Racial e da Secretaria Especial das Mulheres e recebeu patrocínio da Caixa Econômica Federal, da Petrobras e do Banco do Nordeste. "Vou dizer uma coisa para vocês: se eu pudesse, se eu tivesse dinheiro, não precisava ser dinheiro do governo, eu daria o dinheiro do meu bolso para trazer mais mulheres que têm aqui".

Com os aplausos de apoio explícito, Lula foi se animando a repetir o discurso de divisão entre ricos e pobres, que já se transformou em marca pessoal. "As mulheres que fazem essa reivindicação são aquelas que pertencem à família que tira não apenas o sustento da sua família, mas uma parte dos alimentos que comem os que nos criticam todo santo dia", reclamou o presidente. Lula repetiu que é presidente de 190 milhões de brasileiros, "mas não tenho dúvida de que a minha preferência é fazer política para a parte mais pobre a sociedade brasileira, que é quem precisa do Estado brasileiro".

Lula defendeu o Luz Para Todos, "é como se o dedo de Deus estivesse clareando o nosso dia e a nossa noite", o programa do governo de compra de alimentos e o aumento dos recursos do Programa Nacional de Agricultura Familiar. Lula criticou o Banco do Brasil, que encontra dificuldades para diminuir a burocracia nos repasses dos créditos do Pronaf. "O pobre pega e paga, muitos outros pegam e não pagam nesse país", disse o presidente.

Lula prometeu ainda que a reforma da previdência não vai extinguir a aposentadoria para os trabalhadores rurais. "Se alguém disser que nós vamos mexer nos direitos dos aposentados brasileiros ou da mulher trabalhadora rural, vocês podem saber, sem olhar na cara, que quem está falando é mentiroso".