Título: Uruguai e Paraguai manterão tarifa de 18% para têxteis
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Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Especial, p. A16

Uruguai e Paraguai vão manter as tarifas de importação de tecidos para suas indústrias têxteis em 18%, apesar da autorização concedida pelos governos desses países para elevação da tarifa externa comum desses produtos para 26%. No Brasil, empresas importadoras e indústrias de confecções reunidas na Abravest protestaram ontem contra a decisão de aumento da tarifa externa comum para tecidos, oficializada no mesmo dia pelo ministro de Desenvolvimento, Miguel Jorge, e o ministro da Economia do Paraguai, José Maria Ibañez. Elas acusam a medida de não ter razões econômicas e provocar aumento de custos para o país.

Ibañez argumentou que o Paraguai, como acertado com os sócios do Mercosul, manterá as alíquotas cobradas nas importações de tecidos, porque não tem uma indústria relevante para fornecer a seus fabricantes de confecções. Miguel Jorge confirmou que o Uruguai fará o mesmo. Todos os sócios aumentarão as tarifas de calçados e confecções, dos atuais 20% para 35%, como forma de enfrentar o aumento das importações, especialmente da China.

No encontro, os dois ministros discutiram projetos de estímulo a integração da produção industrial no Brasil e no Paraguai. Receberam apoio de executivos brasileiros dos setores de informática e de autopeças. Segundo o ministro, serão formados grupos, com apoio do setor privado, para buscar maneiras de fabricar, no Paraguai, peças para as indústrias de informática e automobilística brasileira. O Brasil rejeitou o pedido do Paraguai para incentivos à instalação de indústrias de pneus recauchutados no país vizinho.

Contrária à decisão de aumento nas tarifas, a Abravest, que reúne empresas de confecções, e a Abitex, de importadores, acusaram o Ministério do Desenvolvimento de agir de forma "autoritária" e ouvir apenas associações de beneficiários com o aumento das tarifas de importação. "Os consumidores pagarão a maior parte do custo da taxação de insumos têxteis", diz nota divulgada pelas duas associações, para quem as conseqüências "maléficas" da medida irão bem além do aumento de preços, porque alguns dos produtos hoje importados não têm similar no mercado doméstico. "O vestuário brasileiro pagará mais caro por insumos que estarão mais baratos em qualquer outro país", queixam-se os empresários, que pedem ao governo para desistir do aumento.

A reação negativa de fabricantes de confecções e importadores de tecidos foi criticada pelo diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, que defende a elevação também das tarifas para tecidos como uma "medida sistêmica", para dar competitividade às cadeias de produção no país. "O Brasil é um dos poucos países do mundo com cadeia produtivas integrada no setor têxtil", argumentou.

Os fabricantes de confecções e importadores contrários ao aumento da tarifa dizem que os dados do Ministério do Trabalho mostram aumento no emprego formal do setor de tecidos, o que indicaria que os preços atuais suportariam pressão por aumento de produtividade. A Abit contra-argumenta que, segundo os dados do IBGE, apenas nas maiores metrópoles, há queda de emprego no setor, que indicaria dificuldade de alguns segmentos. (SL)