Título: Inflação sobe, pressionada por alimentos e serviços
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2007, Brasil, p. A6

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de agosto mostrou uma alta um pouco mais forte da inflação, revelando pressões que não se restringiram às cotações de alimentos. Com elevação de 0,42%, o indicador teve uma variação superior ao 0,24% de julho, superando as previsões qua apontavam para um número na casa de 0,3%. Além da alta mais forte de alimentos, o que também surpreendeu - e desagradou - alguns analistas foi o comportamento dos preços de serviços (que reúne itens como aluguel, cabeleireiro, mensalidades escolares, condomínio e consertos de automóveis), mais sensíveis ao aquecimento da demanda. A principal fonte de pressão, porém, foram os alimentos, que responderam por 0,34 ponto percentual da alta de 0,42% do IPCA-15.

No IPCA de julho, os serviços haviam subido 0,27%, percentual que passou para 0,51% no IPCA-15 de agosto. "O resultado reforça a necessidade de cautela em relação ao cenário de inflação", diz o economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria Integrada. Os analistas acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzirá a taxa de 11,5% para 11,25% ao ano na reunião de setembro, mas crescem as apostas de que a trajetória de queda poderá ser interrompida ainda neste ano. O IPCA-15 é uma prévia do IPCA, o indicador que baliza o regime de metas de inflação. A diferença é que o IPCA-15 é calculado entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira quinzena do mês de referência.

Os preços dos alimentos subiram 1,61%, um salto em relação ao 1,27% do IPCA de julho. O economista Adriano Lopes, do Unibanco, previa uma alta de 1,48%. O destaque negativo foi mais uma vez o grupo de leite e derivados, com variação de 10,62%. Para Lopes, porém, o que mais preocupa é a elevação das cotações de bens e serviços não-comercializáveis internacionalmente (como serviços). O item ensino superior teve alta de 1,09%, enquanto conserto de automóveis aumentou 1,31%. Os preços de carros usados (um bem durável) tiveram elevação de 0,48%.

Esses números sugerem que a inflação pode estar reagindo à atividade econômica mais forte, segundo a economista-chefe do ABN Amro Real, Zeina Latif. Para ela, o comportamento dos preços mostra o impacto das sucessivas quedas dos juros promovidas pelo Copom desde setembro de 2005. Zeina também chama a atenção para o movimento dos núcleos do IPCA-15, referindo-se às medidas que tentam captar uma tendência de mais longo prazo da inflação. O núcleo por exclusão, calculado pela eliminação das cotações de alimentos e preços administrados, subiu 0,28% em agosto, uma aceleração em relação ao 0,1% do IPCA-15 de julho. O núcleo por médias aparadas sem suavização - em que se excluem as 20% maiores e as 20% menores altas de preços - pulou de 0,15% para 0,37%.

"O patamar dos núcleos não é preocupante, mas o movimento é", diz Barbosa, raciocínio compartilhado por Zeina. Ela nota que os chamados preços livres - aqueles que não incluem os administrados, como tarifas de energia elétrica e telecomunicações - subiram 0,66% em agosto.

Os três analistas ressaltam que é necessário esperar outros indicadores para concluir se a inflação de fato acelerou com mais força, mas reforçam a necessidade de mais cautela daqui para frente. Barbosa revisou sua estimativa para o IPCA de agosto, de 0,35% para 0,46%.

A LCA Consultores viu o resultado do IPCA-15 de modo mais benigno. Para a LCA, a alta ainda é muito concentrada em alimentos, principalmente em leite e carnes. "Já os demais grupos que compõem o IPCA-15 tiveram evolução favorável. Descontados os alimentos, o indicador teria alcançado alta de apenas 0,10% em agosto", escrevem os analistas da LCA. Os preços administrados, por exemplo, tiveram deflação de 0,12%.

O IPCA-15 acumula alta de 2,85% no ano e de 3,95% em 12 meses, ainda bem abaixo do centro da meta deste ano, de 4,5%.