Título: Gabrielli defende atuação forte da Petrobras no setor
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Empresas, p. B9

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, negou ontem que a empresa pretenda controlar o setor petroquímico do país. Depois de comprar a Ipiranga Petroquímica, em parceria com a Braskem e Ultra, a estatal participou aquisição da Suzano Petroquímica em parceria com a Unipar. Ontem, em audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, Gabrielli disse que as aquisições apenas acompanham uma tendência mundial de união de petroquímicas e refinarias.

"Nossa estratégia é sermos minoritários relevantes no setor, tendo papel ativo na gestão, não sendo apenas sócio financeiro ou fornecedor de matéria-prima, mas nos associando ao setor privado, que vai liderar a consolidação", disse. Na aquisição da Suzano, Gabrielli revelou que, na empresa a ser criada - a Petroquímica do Sudeste -, a Unipar terá 60% de participação contra 40% da Petrobras. Na Ipiranga, a estatal também não é majoritária.

O executivo foi acusado pelos deputado João Almeida (PSDB-BA) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) de reestatizar o setor. "Saio daqui mais preocupado do que cheguei", disse o tucano. "As atuações da Petrobras ferem a Constituição. Está sendo feita uma reestatização, por orientação do Palácio do Planalto", afirmou o democrata.

Gabrielli negou de forma veemente. "A lei do petróleo determina que atuemos como empresa privada e é o que temos feito. O diálogo ideológico pode ser feito, mas não é ele que guia nossas operações." Em seguida, ele reconheceu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia da compra da Suzano. "O presidente tem conhecimento das linhas gerais e a estratégia da operação", afirmou.

O presidente da estatal levou aos parlamentares estudos sobre a atuação de dezenas de empresas petrolíferas no mundo. Demonstrou que a aquisição de petroquímicas por refinarias é uma tendência. "Não só de agora mas do futuro. Se não fizermos a união, ficaremos para trás. No Brasil, por decisão do passado, o refino foi separado da petroquímica. Foi um equívoco." O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, foi mais incisivo. "Se não seguirmos essa linha, as petroquímicas brasileiras sucumbirão e poderão desaparecer diante da concorrência internacional", afirmou.

Gabrielli e o vice-presidente-executivo e diretor de relações com investidores da Suzano Holding, Fábio Eduardo Spina, falaram sobre os motivos que levaram a Suzano a deixar o setor. De início, a empresa pretendia comprar a Unipar. "Queríamos uma posição de protagonismo", disse Spina. "Mas discordamos da governança colocada para a nova empresa e optamos por vendê-la."

A Unipar, como a Suzano, também pretendia ter o controle da nova empresa. Foi proposto o modelo tripartite, segundo o qual os três sócios teriam direito a veto. "Não aceitamos essas condições", disse Spina. Gabrielli, então, explicou que seria mais fácil comprar a Suzano - "que tem outras opções e poderia seguir em frente" - do que a Unipar, que atua exclusivamente no setor petroquímico.

Segundo o executivo da Suzano, a proposta de R$ 2,7 bilhões era irrecusável. Spina deu a entender que a empresa tinha a percepção de que seria necessária a fusão com a refinaria para conseguir competir no mercado internacional. Não havia outra opção.

Por fim, Gabrielli manifestou preocupação com o vazamento das informações sigilosas antes de consolidado o negócio. "Vazamento é coisa de polícia. É inadmissível. A CVM tem que agir exemplarmente como fizemos na compra da Ipiranga Petroquímica."