Título: IGP-DI sobe 1,31% sob efeito da alta dos preços no atacado
Autor: Magnavita, Mônica e Cossolino, Silmara
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2004, Nacional, p. A-4

IPA dispara a 1,59% e reforça expectativa de aumento da taxa de juros. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços ¿ Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi de 1,31% em agosto, o resultado mais alto desde maio deste ano (quando o aumento foi de 1,46%) e 0,17 ponto percentual superior à taxa de julho (1,14%), anunciou ontem o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV). A alta foi impulsionada principalmente pelos preços no atacado e reforçou a preocupação de analistas de mercado com a possibilidade de haver elevação da taxa Selic, atualmente em 16% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A inflação de agosto, medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), cuja pesquisa foi encerrada dez dias antes e divulgada na semana passada, foi de 1,22%.

O Índice de Preços por Atacado (IPA), que compõe o IGP-DI, registrou elevação de 1,59% e ficou 0,24 ponto percentual (p. p.) acima da taxa apurada em julho (1,35%). De acordo com Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas do Ibre, o resultado foi provocado por uma aceleração dos aumentos dos preços dos bens de produção, que subiram 1,57%, ante 1,55% no mês anterior, e dos bens de consumo, cuja alta foi de 1,62%, ante 0,95% do mês anterior.

Também influenciaram o resultado do IPA de agosto as pressões dos preços dos produtos siderúrgicos, dos eletrodomésticos e de máquinas e equipamentos. No varejo, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresentou aumento de 0,79% em agosto, 0,2 p. p. acima da inflação verificada em julho. Os grupos alimentação (alta de 1,63%) e transportes (1,34%) foram os responsáveis pelas maiores pressões. No acumulado deste ano, o IGP tem alta de 9,53%, o IPA de 11,58% e o IPC de 5,10%. O terceiro componente do IGP, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), subiu 0,81% em agosto, 0,31 p. p. abaixo da inflação desse índice em julho.

Apesar de o IGP-DI ter ficado acima do esperado pelo mercado, não houve surpresas com relação aos grupos que influenciaram a alta. A estimativa da LCA Consultores era de que o indicador fechasse agosto com alta de 1,25%. Mas, para setembro, a LCA sinaliza uma taxa inferior à de agosto.

De acordo com Ricardo Denadai, economista da LCA, a principal pressão dos preços no atacado ficou por conta do IPA agrícola e, principalmente, da reaceleração do IPA industrial verificada em decorrência da alta de matérias-primas liderada pelos preços do aço. "Além da alta das matérias-primas, como aço, borracha e madeira, já se observa, também, alta nos bens de capital, como máquinas agrícolas, que subiu 3%, e materiais elétricos, com quase 2%. Mas o destaque ficou por conta da pressão vinda de matérias-primas", disse ele.

Denadai não descartou a possibilidade desses resultados influenciarem o aumento da taxa de juros, já que o Banco Central leva em consideração os preços no atacado. Por outro lado, ele disse acreditar que este não é um ponto determinante, pois há outros fatores que deveriam ser analisados, como o aumento da expectativa de inflação para 2005, bem como o ritmo de crescimento da economia, que tem mostrado ser bem significativo, segundo ele. "Há ainda termos menos técnicos, que são as próprias declarações dos membros do governo sobre uma possível elevação dos juros. E há também o aumento de custos de matérias-primas. Tudo isso são argumentos pró-aumento", disse.