Título: MT tenta apagar pecha de maior desmatador
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Agronegócios, p. B14

Responsáveis por um quarto de toda a soja produzida no Brasil, os produtores do grão em Mato Grosso começaram a colocar em prática uma ofensiva para desfazer a imagem de principais vetores do desmatamento na Amazônia. Ao mesmo tempo, iniciam um processo para medir resultados econômicos e negociam a criação de uma representação nacional, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).

Em uma iniciativa inédita no Brasil, os produtores assinam amanhã, na Bienal da Agricultura, em Cuiabá, um compromisso formal com o governo estadual para recuperar áreas de preservação permanente (APPs) e de reservas florestais hoje ocupadas com soja em Mato Grosso. Com o acordo, avalizado por oito ONGs, inclusive o Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) e a The Nature Conservancy (TNC), o segmento estima ser possível poupar uma área de até 70 mil hectares já nesta safra que começa a ser cultivada em setembro. É uma área pequena se comparada aos 5,8 milhões de hectares previstos para a nova safra. Mas é um primeiro sinal aos compradores da soja no mercado internacional. "É pouco mais que 1% da área prevista, mas dá a dimensão da nossa preocupação com a produção sustentável", afirma Rui Prado, presidente da Aprosoja Mato Grosso.

Os produtores apostam que a iniciativa de regularização ambiental será estendida a todas as propriedades em cuja área, que soma 8 milhões de hectares, seja plantada soja. "É um primeiro passo. Mas é bastante consistente", diz Prado. O pacto deve evoluir para a redução do uso de agrotóxicos e a reuso dessas embalagens poluentes. O acordo voluntário tem apoio de industriais. "Não se pode mais produzir soja da mesma forma como se fazia antes. O mundo mudou e exige mudanças", afirma Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Segundo ele, em um "futuro próximo" será "inexorável" uma forma de pagamento aos produtores pela manutenção das florestas em pé.

O setor também vai criar indicadores de referência para custos de produção e produtividade no Estado. O embrião é o "Projeto Referência", que utilizará o desempenho de 40 produtores em diversas regiões para estabelecer um "benchmark" que servirá de comparação para a performance dos demais sojicultores. Essa base de dados servirá para balizar as negociações com o governo e complementar os números oficiais - em casos de endividamento e seguro rural, por exemplo.

Também está em curso a criação da Aprosoja Brasil, que reunirá outras seis associações de produtores: Tocantins, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pará, Piauí e Rio Grande do Sul. O objetivo é consolidar um canal de interlocução com o governo, iniciado pela Aprosoja MT. Prado afirma que o segmento responde por 45% da produção nacional de grãos e lidera o ranking das exportações do agronegócio desde 1997. "Isso será um reforço ao nosso peso e posições políticas", diz. O pagamento pelo governo de R$ 1 bilhão em subsídios à soja nas últimas duas safras dá uma idéia do tamanho do peso político buscado pelos produtores.

O jornalista viajou a convite da organização da Bienal da Agricultura