Título: Ex-dirigentes do BC esperam corte da Selic
Autor: Fernando Torres
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2007, Finanças, p. C2

Ex-dirigentes do Banco Central (BC) acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará um novo corte na taxa básica de juros em sua próxima reunião, embora considerem que o momento atual é de cautela. A taxa básica (Selic) está em 11,50%; e o Copom vai se reunir em 4 e 5 de setembro.

Para o ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Franco, atualmente sócio da Rio Bravo Investimentos, a alta do dólar causada pelas recentes turbulências nos mercados financeiros não é suficiente para afetar a inflação e mudar a previsão para a Selic. Até agora não houve "nada que modifique" o cenário da política monetária, disse Franco, que participou do Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, organizado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM & F).

Na visão de Franco, no entanto, o quadro de incerteza reforça aposta de diminuição do ritmo de queda da taxa básica de juros do Brasil. Desta forma, ele considera que o corte da Selic na próxima reunião do Copom em setembro deve ser de 0,25 ponto percentual e não mais de 0,50 ponto como vinha ocorrendo.

O ex-diretor de Estudos Especiais do Banco Central, Eduardo Loyo, concorda que a alta do dólar não se justifica uma interrupção no processo de redução da a Selic. Para ele, se o dólar encerrar o mês em R$ 2, por exemplo, estará apenas compensando a baixa verificada entre maio e junho. ]

Atual economista-chefe para a América Latina do UBS Pactual, Loyo disse que, em algum instante, o Copom terá que fazer uma pausa no processo de relaxamento monetário, para verificar como será o comportamento da demanda.

O ex-diretor do BC projeta um incremento anualizado da demanda da ordem de 6% nos próximos trimestres, o que de acordo com ele estaria acima da taxa de crescimento potencial do Produto Interno bruto (PIB) do país.

O atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mantém o otimismo. Segundo ele, o aumento da renda, o crescimento do investimento, em combinação com o avanço do crédito e com os efeitos da queda da Selic (desde setembro de 2005) vão manter a demanda agregada como propulsora do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

A ex-diretora adjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI), Anne Krueger, afirma que o Brasil não deve ficar satisfeito com uma taxa de crescimento de 5% para o Produto Interno Bruto (PIB). "É evidente que situação melhorou, mas o ritmo de crescimento não é tão grande quanto poderia ser", afirma Krueger. Para ela, a economia brasileira teria condições de se expandir a taxas anuais de 8% a 9%, se algumas medidas fossem tomadas. Entre as melhorias do ambiente econômico que sugere estão as reformas no sistema financeiro, trabalhista e fiscal.

Em relação ao nível de reservas internacionais do Brasil, atualmente na casa de US$ 160 bilhões, a ex-diretora adjunta do FMI disse que é importante que países com histórico de crise de balanço de pagamentos acumulem uma quantidade importante de recursos para se proteger de momentos adversos. "O mercados lembram", disse Krueger. Ela também alertou que as reservas talvez precisem ser usadas em breve: "Em algum momento os preços das commodities vão cair".