Título: JBIC financia projetos que gerem créditos de carbono
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2007, Finanças, p. C4

Foto: Anna Carolina Negri / Valor Richard Bird, do Unibanco: idéia é engordar a carteira de project finance O Unibanco fechou convênio com o JBIC (Banco do Japão para Cooperação Internacional) para a criação de uma linha de financiamento exclusivo para projetos envolvendo a comercialização de créditos de carbono no Brasil.

É a primeira linha que o banco japonês fecha com essa finalidade no Brasil. O acordo disponibilizará um total de US$ 50 milhões, com prazo de até 12 anos.

O Japão está entre os três maiores emissores de gases que provocam o superaquecimento do planeta - em 2005, o país emitiu 8% a mais de gases-estufa que os níveis de 1990. Pelas regras do Protocolo de Kyoto, deveria estar diminuindo as emissões para que, até 2012, elas estejam 5% inferiores em relação aos níveis de emissão de 1990. Na prática, o país ainda tem uma diferença de 14% a ser cumprida.

Além de fazer o dever de casa, as empresas japonesas podem comprar créditos de carbono em países em desenvolvimento, através dos chamados projetos MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), previstos em Kyoto.

"O Brasil é visto como mercado potencial nesse setor", disse ao Valor Kaname Nakano, diretor-geral do JBIC, um dos três representantes do banco que vieram a São Paulo para a assinatura do protocolo com o Unibanco. "O país tem uma variedade de setores para serem explorados e expertise no desenvolvimento de projetos de MDL", acrescenta.

O Brasil tem hoje 232 projetos de MDL, que deverão deixar de emitir 204 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) - por convenção, cada tonelada de carbono equivale a um crédito.

A condição fundamental para se ter direito à linha é vender os créditos de carbono para compradores japoneses. O JBIC entra com o dinheiro, o Unibanco com sua carteira de clientes e a prospecção de novos mercados. O Japan Carbon Fund, também do governo japonês, faria a ponte entre vendedor e comprador.

Apesar de não ser uma condição exigida pelo JBIC, o financiamento também é visto como uma oportunidade para negócios do ponto de vista de interesse nipônico - além de comprar os créditos, os japoneses poderiam ser fornecedores ou compradores de produtos gerados pelos projetos, por exemplo.

Segundo Richard Bird, superintendente da área de bancos correspondentes e relacionamento com multilaterais do Unibanco, cerca de 30 projetos assessorados pelo banco estariam aptos ao financiamento. "Boa parte tem elegibilidade. Mas a idéia é atrair novos clientes, sobretudo em project finance", diz ele. A palavra final sobre a aprovação de um projeto de MDL é do JBIC.

O MDL é um de sete setores estudados pelo "Wise Men Group", grupo formado por representantes do setor privado do Brasil e Japão para o desenvolvimento conjunto de negócios.