Título: Bancos interrompem redução de juros dos empréstimos após crise
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 28/08/2007, Finanças, p. C2

A crise internacional colocou o mercado de crédito bancário em compasso de espera. Os bancos continuam a expandir fortemente suas carteiras de crédito, mas interromperam o processo de redução nos juros dos empréstimos que vinha sendo observado nos últimos seis meses.

Dados divulgados ontem pelo Banco Central, que cobrem os 11 primeiros dias úteis do mês, mostram que os juros cobrados pelos bancos de pessoas físicas e empresas permaneceram estáveis em 35,9% ao ano. Dessa forma, foi interrompido um ciclo de redução nas taxas que vinha desde janeiro, quando os juros caíram de 39,9% para 35,9%.

Mas, pelo menos por enquanto, a crise não foi forte o suficiente para fazer os bancos repassarem aos clientes o aumento dos custos de captação ocorrido em agosto. Os bancos estão pagando mais nas suas captações porque a crise aumentou os juros futuros, que servem de referência à remuneração oferecida nos depósitos.

No caso dos empréstimos a pessoas físicas, o custo de captação dos bancos aumentou 0,4 ponto percentual (pp.), para 11,1% ao ano. A alta no custo de captações foi plenamente absorvida pelos bancos, que reduziram o "spread" em 0,4 pp., para 35,9% ao ano. Isso permitiu que a taxa média cobrada pelos bancos da pessoas físicas ficasse estável em 47% ao ano.

No caso das pessoas jurídicas, o custo de captação ficou inalterado em 10,9% ao ano. A estabilidade se deve ao fato de que os bancos, nos empréstimos a pessoas jurídicas, fazem captações tanto a juros prefixados (que subiram junto com a curva de juros) quanto com taxas pós-fixadas (que caíram no período). O "spread" nos empréstimos a pessoas jurídicas tem se mantido estável, em 12,1 pp., assim como os juros, em 23%.

"Aparentemente, os bancos, como todos os agentes econômicos, estão aguardando para ver os reais desdobramentos da crise internacional", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, que ressalta que as estatísticas sobre o crédito em agosto são muito preliminares para que sejam tiradas conclusões definitivas . "Assim, os bancos evitam tanto reduzir os juros nesse momento como repassar para os clientes a alta nos seus custos de captação."

As incertezas internacionais não impediram, afirma Lopes, que os bancos seguissem a trajetória de expansão da carteira de crédito. O volume total de empréstimos contratados subiu 2% nos primeiros 11 dias de agosto.

Em julho, havia sido registrada uma queda expressiva nos juros e nos "spreads", que se tornaram os mais baixos na série estatística do BC. A taxa média cobrada nos empréstimos às empresas recuou de 23,7% para 23% ao ano, e o "spread", de 12,6 para 12,1 pp. Nos dois casos, é a taxa mais baixa desde 2000, quando começou a atual série estatística.

Nas operações de crédito a pessoas físicas, os juros caíram de 47,8% para 47% ao ano, e o "spread", de 37,1 para 36,3 pp. São os valores mais baixos desde julho de 1994, quando os dados começaram a ser divulgados pelo BC pela metodologia atual.

As taxas do crédito pessoal (50,6% ao ano) e veículos (28,7%), os dois segmentos mais dinâmicos do mercado de crédito, apresentam os juros mais baixos da história. No caso dos empréstimos às empresas, os juros chegaram aos menores valores já vistos no desconto de duplicatas (31,8%), desconto de promissórias (42,5%), capital de giro (28,1%), aquisição de bens (16,1%) e vendor (15,2%).

O crédito total do sistema financeiro se expandiu 1,7% em julho, chegando a R$ 813,357 bilhões. O crescimento está em linha com o avanço de 21,5% observado em 12 meses. O crédito como proporção do PIB subiu de 32,3% para 32,7%, o percentual mais alto desde 1995. O crescimento mais forte, de 2,2%, foi no segmento de crédito livre, com taxas livremente pactuadas pelo mercado. No crédito direcionado, o avanço foi de apenas 0,6%. O segmento mais dinâmico do crédito direcionado é o de habitação, com expansão de 1,5%.