Título: FMI pode revisar para baixo crescimento global
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2007, Finanças, p. C3

Menos de um mês após rever para cima as perspectivas de crescimento da economia mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já admite recuar nas projeções e revisar para baixo as mesmas estimativas devido à crise de liquidez que mexeu com os mercados provocada pela alta da inadimplência nas hipotecas americanas de alto risco. A afirmação é do diretor-gerente do

Fundo, Rodrigo de Rato.

Segundo ele, uma correção é possível, mas "não de forma dramática". Ele ressaltou ainda que, mesmo com uma possível redução, este será "o sexto ano de crescimento consecutivo". Rato não quis falar em números, disse apenas que ainda é cedo para fazer avaliação da extensão da crise. "Temos que ser conscientes de que os riscos aumentaram", afirmou em entrevista coletiva ontem em São Paulo.

No dia 25 de julho, o FMI havia revisado para cima as projeções de expansão da economia mundial, puxada pelo avanço de países como China e Índia. O Fundo havia estimado crescimento global de 5,2% em 2007 e 2008, contra 4,9% previstos em abril para os dois anos.

Na época, o FMI já entendia que a deterioração do crédito causada pela inadimplência no mercado imobiliário de alto risco nos EUA era uma ameaça para os mercados financeiros, mas, ponderava que, até aquele momento, o dano provavelmente ficaria contido.

Quanto ao Brasil, Rato elogiou ontem as melhorias macroeconômicas e a condução da política econômica do País, mas não fez projeções sobre os impactos da crise. Ele se limitou a dizer que o Brasil vai sofrer "mais do que alguns e menos do que outros".

Citando países como o Brasil e a África do Sul, Rato disse ainda que muitos emergentes "seguem firmes em termos de balança exterior, de inflação e de perspectivas de crescimento e perfil da dívida". O diretor preferiu deixar para hoje análises mais detalhadas, quando terá reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Ao contrário de outras crises, ocorridas em países emergentes anos atrás, o Fundo teve pouco, senão nenhuma, participação no saneamento da atual turbulência dos mercados. Ainda assim, Rato considera que isso é um avanço, pois mostra que as políticas monetárias estão mais consistentes.

O diretor elogiou as medidas adotadas pelos bancos centrais ao redor do mundo para o saneamento da crise como "adequadas e eficientes". O Banco Central Europeu (BCE), o americano Federal Reserve (Fed) e outros bancos centrais do mundo injetaram mais de US$ 350 bilhões de liquidez emergencial na economia mundial nas últimas duas semanas para restabelecer a confiança dos investidores.

Para o diretor do FMI, a inovação financeira, com a criação de novos instrumentos por parte dos investidores para aumentar os ganhos, ao mesmo tempo em que contribuiu para o crescimento econômico robusto dos últimos anos, aumentou os riscos envolvidos. "É difícil explicar o crescimento mundial recente sem a contribuição da inovação financeira", avalia.

Como exemplo, o dirigente citou as operações de arbitragem de juros (carry trade), que exigem maior vigilância, mas que os investidores pareciam não ver que poderia "ter ida e volta". Essa percepção maior do risco deve ser o resultado positivo da crise, por possibilitar uma melhoria nos critérios de avaliação, acredita.

Rodrigo de Rato anunciou recentemente que deixará o cargo em outubro, por motivos familiares, apesar de o mandato expirar em maio de 2009.