Título: Impacto nos emergentes ainda é pequeno, diz IIF
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 28/08/2007, finanças, p. C3

Jay Mallin / Bloomberg News Charles Dallara: "Os países emergentes estão em posição muito melhor do que no passado para enfrentar este teste" O Brasil e outros países emergentes atravessaram a turbulência que chacoalhou os mercados financeiros nas últimas semanas como se nada fosse capaz de afetá-los, mas os maiores bancos do mundo acreditam que ainda é cedo para saber se eles realmente escaparão ilesos do tumulto.

"Os países emergentes estão em posição muito melhor do que no passado para enfrentar este teste", disse ontem Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que representa 365 bancos e instituições financeiras do mundo inteiro. "Mas ninguém deve confundir sua capacidade de resistência com imunidade."

Um relatório especial do IIF sobre o impacto da crise nos mercados emergentes afirma que ele foi muito pequeno até agora. O tombo nas bolsas de valores ainda não foi suficiente para anular os ganhos obtidos desde o início do ano. Mas o IIF aponta várias fontes de incertezas que poderão gerar complicações para países como o Brasil.

O retraimento dos investidores estrangeiros deve afetar mais as empresas do que os governos, tornando mais difícil seu acesso a capital externo. Nos primeiros sete meses deste ano, empresas de países emergentes captaram mais de US$ 100 bilhões com papéis emitidos no mercado internacional, ou cinco vezes o que os governos dos mesmos países obtiveram nesse período.

Como lembra o IIF, os emergentes dependem menos do capital externo hoje em dia. Países como o Brasil aumentaram suas exportações, acumularam reservas e pagaram boa parte de sua dívida externa. Mas muitas empresas vinham tirando proveito da oferta de crédito farto e barato disponível no mercado externo e agora terão dificuldades para se financiar desta maneira.

O aumento da aversão ao risco entre os investidores estrangeiros teve impacto reduzido sobre os mercados domésticos, segundo o IIF. "Não houve uma hemorragia como em outras crises", disse Phillip Suttle, diretor de análise macroeconômica do instituto. Mas o IIF teme que algo mais sério ocorra se um número maior de investidores precisar tirar seu dinheiro de lugares como o Brasil para cobrir prejuízos em outros mercados.

Na avaliação dos bancos, se isso acontecer alguns poderão sofrer mais do que outros. "Os fundamentos econômicos do Brasil melhoraram bastante e os primeiros sinais de que o impacto da turbulência foi pequeno são encorajadores", disse Dallara. "Mas países como a Argentina poderão ser vistos com desconfiança maior a partir de agora."

Outra fonte de preocupação do IIF é o impacto ainda desconhecido da crise sobre a economia real. Embora a maioria dos analistas preveja que a economia mundial continuará em expansão neste ano, uma desaceleração maior da economia americana prejudicará os países emergentes, afirma o instituto.

O IIF teme também que os problemas que surgiram no mercado imobiliário americano, o epicentro da crise atual, afastem dos países emergentes grandes bancos que também apostaram nesse setor no Brasil e em outros países onde ele está crescendo. Mas o instituto acha que em geral o mercado imobiliário está se desenvolvendo de maneira mais saudável nos países emergentes, sem uma repetição dos erros cometidos nos EUA.