Título: Chuva arrasa o Rio
Autor: Leite, Larissa; Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 13/01/2011, Brasil, p. 8

Em uma das maiores catástrofes naturais da história do estado, mais de 260 pessoas morrem em três cidades da região serrana

Transbordamento de rio, queda de barreira, deslizamento, desabamento e inundação. A combinação de parte ou de todas essas ações, resultado da forte chuva que desaba na região serrana do Rio de Janeiro desde terça-feira, provocou uma das maiores tragédias vividas pelo estado, com um total de 264 mortos apenas nas cidades Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis. Para se ter uma ideia da dimensão do caos, só em Teresópolis mais de 120 pessoas foram vítimas das águas ¿ a maioria, moradores de locais de risco, independentemente da classe social. De acordo com a Defesa Civil, local bairros nobres também foram atingidos.

Nos três municípios, a tragédia substituiu a fotografia do cartão postal pelas imagens de corpos cobertos pelas ruas, imóveis destruídos, serviços públicos interrompidos e inúmeros objetos sendo arrastados por trombas d¿água. A situação atual da região serrana remete, inevitavelmente, ao desastre ocorrido no estado no mesmo período do ano passado ¿ em janeiro de 2010, cerca de 60 pessoas morreram e 900 ficaram desabrigadas em Angra dos Reis (leia memória na página 10), em função do desabamento de terra provocado pela chuva.

Entre a população, o clima era de pânico. Quem sobreviveu à tempestade correu para tentar salvar o que podia. Pequenos engarrafamentos foram registrados nas três cidades, como se os moradores fugissem de uma invasão. Quem perdeu a família não encontrava forças nem sequer para processar o tamanho da tragédia. A dona de casa Vanda Santos de Oliveira, 20 anos, lamentava o desaparecimento da mãe, enquanto acompanhava as buscas no bairro de Caeté, em Teresópolis. Ainda atordoada, foi informada de que o corpo de um de seus irmãos havia sido localizado. Vanda esteve na casa da mãe na noite de terça-feira, antes de a residência ser soterrada. ¿Minha mãe queria que eu ficasse. Falei para ela também sair, mas ela falou que ia apenas dormir um pouco¿, contou, aos prantos. A estilista Daniela Connoly e mais sete pessoas da família Connoly morreram quando comemoravam o aniversário do pai dela, que também não sobreviveu (leia reportagem na página 10).

Durante todo o dia de ontem, a contagem do número de vítimas das chuvas na região serrana subia a cada instante. Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e prefeituras informavam balanços sobre as mortes, provocando a manifestação de diversas autoridades. Em Teresópolis, o prefeito Jorge Mário Sedlacek decretou estado de calamidade pública no município. O secretário estadual do Rio de Janeiro, Carlos Minc, sobrevoou o município e chegou a afirmar, após a verificação, que se tratava da ¿maior catástrofe da história de Teresópolis¿. O vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão, também sobrevoou a área e classificou a situação local como ¿desesperadora¿. ¿Nunca vi nada igual, nem mesmo nos deslizamentos em Angra dos Reis, no ano passado. Esse é o momento de ver o que pode ser feito para resolver a situação dessas pessoas, buscando, principalmente, desobstruir as estradas e garantir o acesso de serviços¿, disse o vice-governador.

O governador Sérgio Cabral está de férias com a família e deve chegar ao Rio somente hoje. Ainda assim, ele conversou com a presidente Dilma Rousseff ontem para definir medidas emergenciais e solicitou, ao comandante da Marinha, almirante Júlio Moura Neto, aeronaves para o deslocamento de equipamentos e pessoal do Corpo de Bombeiros (leia reportagem na página 9).

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, foi para o Rio de Janeiro na tarde de ontem, sob determinação do ministro da Casa Civil Antônio Palocci, e também prepara uma avaliação das consequências da chuvas no estado.

Em Teresópolis, a prefeitura designou dois abrigos, para receber desalojados, com capacidade para 1.200 pessoas. Em Nova Friburgo, o fornecimento de energia elétrica foi interrompido e, em Petrópolis, além da chuva ¿ 134 milímetros durante a madrugada de ontem ¿, a cidade sofre com a água que desce pela serra.

CARTÕES POSTAIS SOTERRADOS » As fortes chuvas destruíram o principal complexo turístico de Nova Friburgo (RJ). O tradicional teleférico da cidade foi danificado e o hotel Recanto Itália, que é de propriedade do dono do complexo, ficou parcialmente soterrado. O empresário Rodolfo Acre disse que não lhe restará opção, a não ser demitir todos os 40 funcionários. Nova Friburgo contabilizava, até as 22h40 de ontem, 107 mortes, mas o número deve aumentar ainda mais.