Título: Curso superior aumenta
Autor: Grabois,Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2007, Brasil, p. A6

Davilym Dourado/valor Samuel Pessôa: curso universitário também tem hoje a função de preencher as falhas do ensino médio O mito de que um curso universitário é ineficaz para aumentar a renda da população no Brasil foi desmentido por novos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002/2003, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa, realizada por amostra em todo o país, revela que a renda familiar tem ganhos significativos conforme a presença na casa de membros com curso superior completo.

Uma família sem nenhum integrante com curso superior tem uma renda mensal equivalente a R$ 1.215,24. O rendimento mensal mais que triplica e passa para R$ 3.817,96 nas famílias que têm uma pessoa com curso superior e salta para R$ 6.994,98 em lares com pelos menos duas pessoas que cursavam ou concluíram um curso superior.

Para o pesquisador do IBGE José Mauro de Freitas Júnior, a Pesquisa de Orçamentos Familiares revela de forma mais enfática a importância do curso superior para o crescimento da renda no país. "Ter um curso superior causa um impacto cavalar sobre o rendimento das família", pontua o economista Samuel Pessôa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em um cenário de elevado nível de desemprego, Freitas Júnior, do IBGE, afirma que a maior escolaridade é um fator de mobilidade social e configura uma vantagem competitiva no mercado de trabalho. "Ter um nível superior não garante um emprego de alta renda, mas dá a possibilidade de se conseguir um emprego melhor", diz o pesquisador do IBGE.

Samuel Pessôa acrescenta que o curso superior é uma espécie de seguro contra o desemprego, que atinge mais os menos instruídos. O economista da Fundação Getúlio Vargas ressalta que o curso universitário, diante da recente universalização da educação no país, também tem a função de preencher falhas do ensino médio e de suprir carências daqueles que cresceram em ambientes com pouco acesso à cultura e à informação.

"O nosso background faz com que uma pessoa fique mais na escola para ter o mesmo nível de conhecimento de uma pessoa que estudou menos em países ricos ou que seja integrante de uma família rica no país", disse Pessôa. Mesmo que um engenheiro formado trabalhe em uma atividade abaixo de sua qualificação, o conhecimento adquirido no ensino superior vai ser útil para a execução de suas atividades, reforça Pessoa.

A POF mostra, entretanto, que 84% das 48,5 milhões famílias brasileiras eram formadas por pessoas sem curso superior em 2002/2003. Para o pesquisador do IBGE, tal informação reflete a alta concentração da renda e do consumo no país.

Apenas 4,8 milhões de lares, 9,9% do total, apresentavam um integrante com curso superior em andamento ou concluído. Já o número de domicílios com pelo menos duas pessoas que chegaram ao ensino superior correspondia a somente 2,9 milhões, ou o equivalente a 6% das famílias brasileiras.

Segundo a pesquisa, a maior parte dos chefes dos domicílios estudou de quatro a sete anos, ou seja, não conseguiu concluir a oitava série do ensino fundamental. Neste caso, a renda média familiar mensal correspondeu a R$ 1.324,85.

Na outra ponta, em casas onde o responsável é mais instruído, com pelo menos o ensino médio completo, a renda mensal sobe para R$ 3.796,50.

Nos domicílios chefiados por pessoas que freqüentaram a escola menos de um ano na vida, a renda baixa para R$ 752,49. No grupo dos responsáveis da casa que estudaram de um a três anos, a renda da família era de R$ 971,24, enquanto que os estudaram de oito a dez anos, a renda mensal correspondeu a R$ 1.667,12.