Título: Em São Paulo, o que está ruim pode piorar
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 13/01/2011, Brasil, p. 12

Municípios do estado sofrem com as enchentes e a situação deve se agravar hoje, com a previsão de mais tempestades. Fiesp calcula prejuízo de empresas em R$ 3,4 bilhões mensais

São Paulo ¿ Dois dias depois do temporal que levou pânico e destruição a São Paulo, a cidade ainda contabilizava prejuízos por conta do excesso de água. Nas duas primeiras semanas do ano, só a grande São Paulo teve 238,3mm de chuva, o que equivale a 99,7% da média esperada para janeiro, segundo dados do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da prefeitura. O pior é que o índice deve aumentar, segundo previsões, porque o tempo permanece instável. Ontem, a marginal Tietê, principal via de acesso à cidade, teve oito pontos de alagamento porque o rio transbordou.

No bairro da Vila Madalena, uma cratera se abriu no meio de uma rua e engoliu um carro na noite de terça-feira. Segundo a prefeitura, as fortes chuvas que atingiram São Paulo fizeram com que a galeria pluvial que passa sob a rua se rompesse. Para hoje, são esperados dois temporais no fim da tarde.

Desde o início do verão, já foram registrados 14 mortos em todo o estado, e a cidade mais castigada foi Franco da Rocha, que ontem ainda estava quase toda inundada. A enchente obrigou a Secretaria de Administração Penitenciária a transferir 90 detentas do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico porque as dependências estão alagadas. A água atingiu aproximadamente dois metros de altura na ala que abriga as mulheres. Elas foram levadas para o Centro de Detenção Provisória Feminino de uma cidade próxima.

O centro de Franco da Rocha ainda está inundado, deixando o comércio e a maior parte dos prédios da administração municipal cercados pela água, o que impede o acesso de pessoas. A linha de trem que segue da capital para o município e outras cidades da região metropolitana também está tomada por uma água barrenta, impedindo a circulação dos trens.

Outra cidade afetada é Mauá, na Região do ABC. Pelo menos 154 casas foram interditadas pela Defesa Civil, mas as famílias se recusam a sair por não terem para onde ir, além do receio de que os eletrodomésticos sejam roubados. Só nesta semana, cinco pessoas morreram no município em desmoronamentos causados pelas chuvas. Dessas mortes, três ocorreram no bairro de Zaira, um aglomerado de casas construídas na encosta de três morros.

Ontem, técnicos da Defesa Civil passaram o dia tentando convencer a população a deixar o local. ¿Eles não querem sair e começaram a hostilizar a gente¿, conta a voluntária Renata Moiré. A dona de casa Marcolina Costa, 44 anos, mora no bairro há 20 anos e diz que já viu três deslizamentos de terra. ¿Se a prefeitura me der uma casa, eu saio¿, ressalta. Ela construiu, com a ajuda de vizinhos, a sua própria residência, onde vive com 12 pessoas entre filhos, irmãos e sobrinhos.

Prejuízos Segundo um levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as chuvas e as enchentes de verão causam prejuízo de aproximadamente R$ 3,4 bilhões por mês às empresas de São Paulo. De acordo com a pesquisa, a maior causa do prejuízo decorre do atraso na entrega de produtos e da ausência dos funcionários, que não conseguem sair de casa por causa de enchentes.

ATIBAIA EM ESTADO DE EMERGÊNCIA » O município de Atibaia, a 69km da capital paulista, está em estado de emergência desde a tarde de terça-feira. De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, o Rio Atibaia transbordou e várias ruas ainda estão alagadas. Pelo menos 290 famílias estão desalojadas e 45, desabrigadas. Na madrugada de ontem, a Defesa Civil do estado emitiu nota alertando sobre os riscos de chuvas mais intensas na região de Campinas, afetando principalmente os municípios de Atibaia e de Bragança Paulista.