Título: Estudos buscam o carro ideal para motorista idoso
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2007, Empresas, p. B10

Qual é a melhor idade para parar de dirigir? Esta é uma pergunta que a indústria automobilística está cada vez mais preocupada em responder em razão do aumento da expectativa de vida da população mundial. De olho na tendência, fabricantes de autopeças começam a desenvolver equipamentos e sistemas para facilitar o uso do automóvel e ajudar o motorista idoso a enfrentar os preconceitos e aflições que chegam com a perda do vigor físico, dos reflexos e da visão.

As soluções que vêm sendo analisadas na indústria automobilística mundial incluem idéias simples e baratas, que podem ser usadas em qualquer carro, e também equipamentos mais sofisticados, disponíveis, por enquanto, somente no Primeiro Mundo.

Entre as sugestões mais modestas para facilitar a vida da Terceira Idade ao volante, nos Estados Unidos pesquisadores da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), órgão do governo, e da indústria automobilística propõem que o interior do carro passe a oferecer informações visuais mais fáceis, como mostradores maiores, equipamentos com letras maiores e ainda maior contraste entre letras/gráficos e fundo no painel. Na parte auditiva, sons de freqüências mais altas podem indicar maior urgência.

Na lista de inovações mais sofisticadas, a TRW, multinacional americana, já vende nos Estados Unidos e Europa equipamentos como o radar que detecta objetos em movimento com alcance ampliado de até 200 metros. Além disso, o motorista que já não tem a mesma força nos braços e mãos não poderia contar com algo mais cômodo do que um freio de estacionamento elétrico. Basta acionar um botão e ele nem sente que os anos passaram.

A direção da TRW acredita que os equipamentos que começou a colocar nos mercados dos Estados Unidos e Europa trazem segurança para manter a terceira idade ao volante. Segundo o diretor da TRW no Brasil, Wilson Rocha, não são peças exclusivamente lançadas para idosos. "Facilitam o uso do carro por motoristas de qualquer idade", destaca. "Mas, exatamente por isso são muito úteis para os mais velhos que, apesar dos sentidos reduzidos, possuem o direito de ir e vir", completa o executivo.

Na Europa já existem automóveis que podem ser equipados com dispositivo que reduz automaticamente a velocidade se o carro à frente estiver mais lento. O EnTire solution, equipamento lançado pela TRW, mede constantemente a pressão e a temperatura dos pneus e dá até um sinal no painel para avisar que o pneu furou.

A má notícia para os velhinhos brasileiros é que essas novidades ainda vão levar um bom tempo para chegar ao país. Rocha calcula 10 anos. Mas, segundo ele, outras facilidades já começam a aparecer no mercado brasileiro. A indústria já trabalha, por exemplo, com direções mais leves.

Uma pesquisa patrocinada pela Toyota, realizada na Universidade da Virgínia, analisou como garantir mostradores de painéis mais claros para motoristas idosos com visão reduzida e reflexos mais lentos. A equipe também começou a pesquisar a perda auditiva e suas implicações para o projeto automotivo.

Segundo a NHTSA, nos Estados Unidos motoristas idosos respondem por 12% das fatalidades no trânsito. O índice não é alto quando comparado com motoristas de outras faixas etárias. Mas os estudos mostram que os condutores mais velhos estão envolvidos em número mais alto de colisões por distância percorrida do que jovens ou motoristas de meia idade.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, o número de indivíduos com mais de 60 anos aumentou 29 vezes desde 1940. Projeções internacionais indicam que, em 2050, a população idosa do planeta estará em 1,9 milhão de pessoas, total equivalente ao habitantes de 0 a 14 anos.

Envelhecer não é fácil. Cercada de preconceitos, a velhice nos afasta da vida ativa, enfraquece o corpo e nos privaria de prazeres. Mas não existe idade certa para parar de dirigir, afirma Rocha, da TRW. Para ele, somente os exames médicos são capazes de afastar o ser humano da direção.