Título: Dólar e juros futuros desabam; Bolsa sobe
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Finanças, p. C2

As taxas de juros de longo prazo despencaram ontem no mercado futuro da BM&F. Por duas razões. A primeira foi a desaceleração do índice oficial de inflação. O IPCA-15, cuja metodologia é idêntica ao do IPCA, referente a janeiro foi de 0,68%, no piso das expectativas (entre 0,63% e 0,80%) dos analistas. O índice, refletindo menor pressão de preços administrados, freou frente ao de dezembro, que subiu 0,84%. A segunda foram os dados de desemprego e renda divulgados na véspera pelo IBGE, quando o pregão de DI futuro estava de portas fechadas devido ao feriado paulistano. Não há inflação que resista a uma queda nominal de rendimento dos trabalhadores. Não se trata de recuo real, mas nominal. A temida, e cada vez mais improvável, inflação de demanda não irá amparar justificativas monetaristas por parte do Banco Central. Se os diretores do BC esperaram até a última hora para dar os retoques finais na ata da última reunião do Copom, que será divulgada hoje cedo, será muito provável que o documento, como o anterior, esmere-se em atear fogo às expectativas, já que o mercado não consegue sustentar por muito tempo elevada projeção de juro real. Enquanto os três contratos mais curtos permaneceram praticamente estáveis no mercado futuro da BM&F - em 18,22% para fevereiro, 18,35% para março e 18,56% para abril - os vencimentos para o final do ano desabaram. O contrato para outubro caiu de 18,82% para 18,69%. E o relativo à virada do ano cedeu de 18,63% para 18,46%. O juro real caiu de 12,23% para 12,07%.

Mercado aguarda sinais na ata do Copom

Outro motivo, este extra-inflação, surgiu ontem para ajudar na derrubada dos juros longos. A pesada queda do dólar frente ao euro, levemente superior a 1%, propiciou a retomada das operações de venda da moeda no mercado futuro. São negócios de arbitragem entre os mercados futuros de dólar e juros, cuja rentabilidade é o CDI. Ao fechar a última ponta, a engenharia financeira provoca queda no DI longo. O desabamento do dólar no mercado externo surpreendeu os operadores locais. Como o BC fez logo cedo um leilão de compra expressivo de dólar - adquiriu dos 17 dealers mais de US$ 200 milhões - e por preço (R$ 2,678) ligeiramente superior ao que vigorava no momento da operação, o mercado entendeu que a sua intenção era de sustentar a cotação. Mas não teve como impedir baixa adicional depois que o dólar passou a cair com força frente ao euro. E o dólar fechou a R$ 2,6650, menor cotação do ano, em desvalorização de 1% em relação à véspera.

A debilidade do dólar deprimiu o mercado de títulos do Tesouro americano. Por tabela, melhorou a atratividade dos bônus emitidos por emergentes. O risco Brasil recuou 2,4%, para 406 pontos-base. A Bovespa se beneficiou tanto com o cenário de alta menos acentuada dos juros internos quanto da busca, pelos investidores externos, de ativos não denominados em dólar. Com volume de R$ 1,18 bilhão, o índice fechou a 24.527 pontos, em alta de 1,37%.