Título: Brasil e Turquia têm riscos parecidos, diz FitchRatings
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Finanças, p. C3

"Brasil versus Turquia. Não, isso não é um jogo de futebol, ou nós já saberíamos o resultado." Com essas bem-humoradas frases os analistas da FitchRating dão o pontapé inicial de um relatório comparando os indicadores de solvência dos dois países e a vontade política de realizar os pagamentos da dívida. "Os dois países estão em situação incrivelmente semelhante e os investidores querem orientação para saber se devem aplicar seus recursos em títulos da dívida brasileira ou turca", explicou Roger Scher, analista da FitchRatings, por telefone, de Nova York. Hoje, Brasil e Turquia têm a mesma classificação de risco de crédito pelas três principais agências de rating: Fitch, Standard & Poor's e Moody's. A Fitch elevou a nota da dívida externa de longo prazo da Turquia para "BB-" em 13 de janeiro, igualando essa nota à brasileira. Mas o mercado parece não concordar com as agência de rating: o risco-Brasil medido pelo índice EMBI+ do JP Morgan é historicamente mais alto do que o da Turquia. Ontem, era de 406 pontos básicos às 20h, na comparação com o risco-Turquia de 273 pontos. Scher atribui a diferença a fatores técnicos. O fato de os fundos de pensão turcos poderem comprar títulos da dívida externa do país é fundamental para o risco-Turquia ser menor do que o risco-Brasil, diz o analista da Fitch, concordando com comentário feito ao Valor pelo diretor da área internacional do Banco Itaú, Paulo Soares. "A conta de capitais na Turquia é mais aberta", diz Scher. Além disso, continua, a dívida brasileira é maior e tem mais peso no EMBI.

"Há semelhanças notáveis entre o crédito desses dois países de diferentes partes do mundo e com origens culturais distintas, enfrentando realidades geopolíticas e geoeconômicas diferentes", diz o relatório. O indicador de solvência mais próximo, segundo Scher, é a relação entre a dívida bruta total e o Produto Interno Bruto, de 73,9% para o Brasil e de 74,2% para a Turquia. O prazo médio de vencimento da dívida interna também é bem parecido, destacou ele: 28 meses para o Brasil e 21 para a Turquia. A relação entre a dívida externa líquida e as exportações também é similar: 124,6% para Brasil e 108% para Turquia. O déficit fiscal turco, de 8% do PIB, é maior do que o brasileiro, de 4,4%, diz ele. Mas a economia da Turquia é "mais vibrante" e cresce mais rápido do que a brasileira - 8% em 2004, na comparação com os 5% do Brasil. A Fitch acredita que a Turquia é mais vulnerável a uma desvalorização de curto prazo em sua moeda do que o Brasil, por causa de um déficit de conta corrente de 5,3% do PIB, na comparação com o superávit de 1,9% do Brasil. Além disso, só 24% da dívida do Brasil é denominada em moeda estrangeira, em relação aos 45% da Turquia, diz o relatório. Do ponto de vista político, no entanto, o governo turco tem mais facilidade para aprovar reformas com rapidez, pois seu partido tem dois terços do Congresso, diz Scher. Além disso, nota ele, a Turquia tem um calendário de reformas ancorado em um programa de três anos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e em seus compromissos para ingresso na União Européia. Já o Brasil vai terminar seu programa com o FMI em breve e, na visão da Fitch, não deve renová-lo. O presidente Lula vai fazer um grande alarde disso e proclamar que conseguiu sair da tutela do FMI, segundo a Fitch, embora deva continuar a seguir as políticas sancionadas pelo Fundo.