Título: Credor dos EUA espera para ver
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2005, Finanças, p. C8

O governo argentino será obrigado a enviar semanalmente ao governo italiano o nível de adesão à oferta de troca de seus bônus em default. Os números, recebidos pelo órgão regulador do país todas as sextas-feiras, serão publicados na imprensa da Itália, confirmou o secretário de Finanças Guillermo Nielsen em encontros com investidores em Nova York, ontem e hoje. O primeiro índice, de 23%, foi divulgado na sexta-feira passada, depois da primeira semana da oferta em vigor. O road show das autoridades argentinas nos Estados Unidos não trouxe grandes novidades a investidores reticentes em aceitar a oferta de renegociação da dívida externa. "Dadas as restrições políticas internas, a oferta não deve melhorar a curto prazo", disse a analista do CSFB Carola Sandy, que participou de um dos encontros. Devido à nevasca ocorrida no fim de semana na região noroeste dos Estados Unidos, encontros previstos para Boston foram cancelados e haverá reuniões até sexta-feira em Nova York. Além da insistência na melhora das condições da oferta, que continua sendo firmemente rejeitada pelo governo argentino, a maior polêmica durante as reuniões tem sido a cláusula de "credor favorecido" para os investidores que aceitarem a oferta agora. Não há uma garantia explícita de que os investidores que aceitem a oferta agora tenham direito a qualquer melhora que seja negociada pela Argentina no futuro, principalmente em acertos extra-judiciais. Sandy acredita que a adesão no fim do período será de cerca de 70%, embora a maior parte dos investidores deva deixar para aderir nos últimos dias do período. Outras fontes de mercado afirmam que alguns investidores de varejo (principalmente na Europa) estão vendendo seus papéis no mercado secundário por meio dos bancos onde estão depositados. Com isso, a chance de o governo argentino conseguir um percentual alto de adesão logo na primeira metade do período da oferta diminui. Até agora nenhum dos grandes fundos de investimento que declararam não aceitar a oferta, como o hedge fund Gramercy Advisors ou o administrador de fundos T.Rowe Price, declararam ter mudado de posição. Ao contrário do clima nas reuniões européias, mais inflamado, nos Estados Unidos a grande presença de investidores institucionais contribuiu para maior cordialidade nas discussões com o secretário Nielsen. Segundo a agência de notícias Dow Jones, um dos integrantes da comitiva argentina desmaiou durante uma apresentação em Paris, depois de ter sido questionado sobre as condições da cláusula de credor preferencial. Sabendo que não deve haver melhora na oferta pelo menos até o fim do período inicial previsto, os investidores precisam decidir se aceitam as condições atuais, que são ruins, ou esperam por vários meses, ou até anos, para conseguir mais. Nas reuniões, Nielsen deixou claro que, por condições políticas internas, o país não terá pressa para renegociar com os credores que rejeitaram a oferta inicial. Uma adesão próxima a 70% deve criar oportunidade para uma segunda rodada de negociações, oferecendo as mesmas condições para quem rejeitou a primeira oferta. Mas se a aceitação ficar abaixo de 50%, os investidores acreditam que o governo argentino terá de oferecer algo mais numa segunda rodada de negociação, dependendo da reação do Fundo Monetário Internacional (FMI) à baixa adesão. "Até agora o FMI não se envolveu muito nas condições da troca, mas se a adesão for muito baixa, pode haver uma maior pressão", disse um executivo.