Título: Controle mais rigoroso pode fazer subir preço de brinquedo no varejo
Autor: Bispo, Tainã
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2007, Empresas, p. B5

Anna Carolina Negri/Valor Fernandes, da Estrela, que importa 35% de produtos e componentes: "Já praticamos as regras da nova portaria" As novas regras do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) para aumentar a segurança dos brinquedos importados, divulgadas na segunda-feira, podem ter reflexos no preço final dos produtos e no prazo para chegada das mercadorias às lojas. Segundo as determinações do órgão, os brinquedos trazidos do exterior precisarão ser testados lote a lote. Por outro lado, a demanda por certificação irá aumentar, fazendo com que novos laboratórios passem a oferecer o serviço.

Celso Pilnik, diretor da rede de varejo PBKIDS, calcula que o prazo para liberação dos lotes de importados pode dobrar para mais de 20 dias. Além disso, se diz preocupado com o impacto nos custos. "Estimamos que os produtos no ponto-de-venda possam ter um preço entre 1% a 2% maior", afirma. A PBKIDS importa diretamente um volume de produtos correspondente a 10% a 15% de suas vendas. Pilnik, no entanto, não acredita que esses reflexos possam afetar o desempenho no Dia das Crianças - que, junto com o Natal, responde pela maior parte das vendas do setor. A rede já está com 90% do estoque referente à data em solo nacional.

Porém, não são todas as empresas que compartilham a preocupação de Pilnik. A Candide, segunda maior importadora de brinquedos do Brasil, afirmou, por meio de sua assessoria, que considera "louvável" a ação do Inmetro. A empresa conta que trabalha com o estoque cheio o ano todo e já está preparada para o dia 12 de outubro. Para a Candide, será necessário reprogramar a importação, "mas isso não irá aumentar, necessariamente, o custo". A companhia acredita que o tempo para o lote ser certificado (junto com os trâmites administrativos) demore alguns dias a mais. Hoje, são cerca de 11 dias.

Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), apóia a decisão do Inmetro. "A certificação lote a lote é risco zero", comenta.

A tradicional Estrela também demonstra tranqüilidade quanto a isso. "Não vamos mudar nada frente a essa realidade", afirma Aires José Leal Fernandes, diretor de marketing da empresa, que importa cerca de 35% de produtos e componentes. "Toda a nossa coleção passa por testes dentro do laboratório interno da Estrela, que é referendado pelo Inmetro. Já praticamos as regras dessa portaria." Para o dia 12 de outubro, a fabricante preparou o lançamento de 100 produtos. "Por enquanto, os pedidos de encomendas estão 20% acima do ano passado", diz.

A Mattel afirmou que irá respeitar as novas regras, "visando a segurança do consumidor". A empresa importa todos seus brinquedos da China. Porém, faz questão de ressaltar Alejandro Rivas, gerente geral da empresa no Brasil, cerca de 50% dos produtos com marcas Mattel que estão no varejo brasileiro são licenciados. "Dos produtos licenciados, 95% são fabricados no Brasil."

O setor de brinquedos tem passado por dias tumultuados. A gigante Mattel englobou o Brasil em um recall mundial anunciado no dia 14. Enquanto isso, a brasileira Gulliver iniciou a retirada da linha Magnetix do mercado e anunciou que o recall do brinquedo começa hoje. Para diminuir a incidência dessas ocorrências, o Inmetro aumentou o rigor na importação.

Alfredo Lobo, diretor de qualidade do Inmetro, é categórico quanto à necessidade das novas regras. Ele sabe, no entanto, que não há unanimidade no setor sobre a decisão do órgão. Mas não se preocupa. "A complexidade (do processo de importação), o tempo e o custo vão aumentar. Mas essas são variáveis que eu não posso considerar. Tenho que pensar na segurança. Cabe a eles (importadores) se programarem para minimizar esses efeitos", diz.

Antes de ser determinada a certificação lote a lote, era possível enviar uma amostra do produto a um laboratório brasileiro ou do país de origem (que estivesse de acordo com regras internacionais) para obter o selo. Só após obterem o certificado é que os importadores traziam as mercadorias para o país.

Hoje, há quatro institutos certificadoras de brinquedos no Brasil, informa Lobo, do Inmetro. Se a demanda aumentar, outros institutos irão pedir ao Inmetro para ampliarem o escopo de atuação e para trabalharem com brinquedos também. "Não será esse o gargalo. É possível que mais uns dois ou três órgãos busquem o Inmetro", diz. Ele cita como exemplo a camisinha, que passou a ser certificada lote a lote em 1998. "Hoje, praticamente não encontramos produto com risco", diz Lobo.