Título: Empréstimo externo mais caro
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2007, Finanças, p. C1

Empresas brasileiras de primeira linha já são hoje obrigadas a pagar quase 50% a mais em prêmios de risco pelo crédito externo, como parte do impacto do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Muitas companhias, como a Usiminas, adiam transações que seriam realizadas para investimentos. Outras empresas e fundos, como a Gerdau e o GP Investments, no entanto, foram pegos pela crise bem no meio de processos de aquisição e são forçados a aceitar condições menos favoráveis nos empréstimos, de US$ 4,2 bilhões e US$ 880 milhões, respectivamente.

O crédito de até R$ 11 bilhões para a operação de aquisição das ações preferenciais da Tele Norte Leste Participações pela controladora Telemar Participações, holding da operadora de telefonia Oi, também passa por processo de rediscussão, pois os bancos querem prêmios de risco mais altos por causa do aumento no custo de capital internacional. Há acionistas cada vez menos dispostos a dar continuidade à transação, que poderia ser em parte financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e em parte no mercado por meio da emissão de ações.

Apesar de ter de aceitar prêmios de risco de crédito mais elevados, a Gerdau conseguiu a garantia de que pode pré-pagar o empréstimo que vai tomar agora, em meio às turbulências, a qualquer momento, se as condições melhorarem no futuro. No total, a Gerdau Ameristeel, subsidiária americana da Gerdau, que vinha em processo de crescimento internacional, havia tomado US$ 4,6 bilhões do JPMorgan para comprar a americana Chaparral. O empréstimo seria rolado no próprio mercado americano, por meio da emissão de bônus e empréstimos. Mas, o colapso repentino no mercado de crédito nos Estados Unidos surpreendeu, puxando os prêmios de risco para níveis considerados elevados pelas empresas e ampliando a necessidade de garantias e cláusulas financeiras restritivas.

A empresa resolveu então aceitar a sugestão de executivos de bancos brasileiros e fazer um empréstimo sindicalizado com os bancos internacionais no Brasil, de US$ 2,7 bilhões, segundo o mercado, que será tomado pela Ameristeel e terá a garantia da matriz Gerdau S/A. A operação, sob a liderança do JPMorgan, do ABN AMRO e do HSBC, ficou divida em três parcelas: uma que compromete as exportações, de prazo de vencimento em cinco anos, uma outra que também compromete as exportações, de prazo de vencimento em seis anos, e outra de capital de giro, de prazo de vencimento em cinco anos. Os prêmios de risco cobrados são de Libor, taxa interbancária de Londres, mais 1% na primeira parcela e de Libor mais 1,25% nas duas outras parcelas. Para comparação, em janeiro a Vale do Rio Doce tomou pré-pagamento à exportação de US$ 5 bilhões, como parte do pacote de rolagem do empréstimo-ponte usado para a compra da Inco. Pagou prêmios de 0,625% e 0,75% ao ano pelos prazos respectivos de cinco e sete anos.

"O mercado continua buscando ativos de qualidade e a Gerdau está conseguindo prazos e condições gerais bem atraentes dadas as novas condições do mercado", diz João Teixeira, vice-presidente executivo do ABN AMRO. Para Roberto Veirano, do HSBC, o empréstimo, dado o momento atual, é uma demonstração da força da Gerdau. "Nós temos a obrigação de buscar o melhor mercado para os nossos clientes e hoje os empréstimos externos sindicalizados no Brasil são uma interessante alternativa", afirma Altamir Silva, diretor do JPMorgan. Eles não quiseram comentar os detalhes, mas, segundo apurou o Valor, US$ 1 bilhão ficará na carteira do HSBC, JPMorgan e ABN AMRO, em um empréstimo-ponte, para ser rolado por meio de eurobônus quando o mercado melhorar. Os outros US$ 900 milhões serão pagos por meio de caixa das diversas empresas do grupo Gerdau.

"Acreditamos que a atual turbulência nos mercados financeiro é passageira e que os fundamentos macroeconômicos do Brasil estão sólidos", disse Paulo Penido Pinto Marques, diretor de finanças e relações com investidores da Usiminas. Segundo o mercado, a empresa chegou a sondar os bancos para lançar empréstimo de US$ 250 milhões sob o guarda-chuva do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que seriam usados como parte do programa de investimentos de US$ 8,4 bilhões. Mas depois retirou a operação. "A Usiminas sempre procura o melhor momento para fazer suas captações", afirma o executivo.

O GP Investments havia acabado de comprar as operações latino-americanas de perfuração e manutenção de poços de petróleo e gás em terra da americana Pride International, por US$ 1 bilhão, dos quais US$ 600 milhões foram financiados pelo Citigroup. Adquiriu também 70,7% do capital votante e 38,6% do capital total da Magnesita por R$ 1,24 bilhão, dos quais um total de R$ 560 milhões foram pagos com um empréstimo do banco ABN AMRO, assessor financeiro da transação. As operações, que deveriam ser roladas por meio de eurobônus ou empréstimos, devem ficar na carteira dos bancos por mais tempo. Como todos sabem no mercado, os empréstimos tomados para aquisição são mais caros.