Título: Indústria eletroeletrônica defende acordo de livre comércio com México
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2007, Brasil, p. A2

Pisco Del Gaiso/Fotosite/Valor Humberto Barbato: "Em 2001, o setor foi contrário porque queriam nos usar como moeda de troca" Ao desembarcar com uma missão de empresários na Cidade do México, hoje, o vice-governador e secretário do Desenvolvimento de São Paulo, Alberto Goldman, terá a companhia do presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Mais que integrante da comitiva de Goldman, Barbato é um forte exemplo da mudança de atitude dos empresários brasileiros em relação ao México. Antes contrária à abertura do mercado aos mexicanos, a indústria de eletroeletrônicos, agora, é uma das maiores defensoras de um acordo de livre comércio com o país.

"Em 2001, o setor foi contrário porque queriam nos usar como moeda de troca para ganhar mercado para produtos agrícolas", argumenta Barbato. "Agora trazemos uma proposta de acordo, para ver com os parceiros mexicanos se aceitam ou não."

Segundo o diretor-adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomas Zanotto, uma pesquisa entre diversos setores industriais, realizada pela entidade, constatou que, à exceção da indústria de pneus e da automotiva, esta última já coberta por um acordo específico com os mexicanos, todos deram sinal verde para um esforço de ampliação do atual acordo de preferências comerciais entre Brasil e México.

"Mesmo que não se mexa muito na parte agrícola, a indústria tem muito interesse num acordo", revela Zanotto, tocando no ponto mais sensível das negociações com o governo mexicano. No México, a experiência do Nafta, o acordo de livre comércio com Estados Unidos e Canadá, provocou forte concorrência contra pequenos e médios produtores agrícolas - o que deixou o governo local bastante avesso a concessões nesse setor. Os diplomatas brasileiros garantem que não há hipótese de se aceitar um acordo que deixe de lado a abertura do mercado mexicano ao agronegócio brasileiro.

Para a Fiesp, a negociação com o México traz a vantagem adicional de permitir um acordo independente dos demais parceiros do Mercosul - o acordo já existente, conhecido como ACE-53, foi o último assinado individualmente pelos parceiros do Mercosul, que pode ser modificado sem necessidade de consulta aos demais. Resistências protecionistas da Argentina e suscetibilidades do Paraguai e Uruguai são apontados pelos industriais brasileiros como um dos fatores que dificultam a assinatura de acordos comerciais bilaterais por parte do Brasil.

Uma reunião de discussão de "aprofundamento do ACE-53", marcada informalmente para este mês teve de ser adiada, provavelmente para outubro, por um motivo singular: a principal negociadora comercial mexicana mudou de posto, deixando acéfala a equipe encarregada das discussões. Espera-se para logo sua substituição, o que permitiria retomar as conversas entre Brasil e México.

Em conversa reservada, um diplomata atento às negociações lembra que uma das últimas medidas do governo Vicente Fox, que deu lugar ao atual presidente, Felipe Calderón, foi a decisão de rebaixar, unilateralmente, as tarifas de importação para cerca de 6 mil produtos, para baratear a compra de componentes e insumos das indústrias mexicanas - e, com isso, aumentar sua competitividade nas exportações ao mercado americano. A negociação de um acordo que reduza ainda mais essas tarifas para produtos brasileiros seria uma boa maneira de buscar mercado no país que é, hoje, o quinto maior mercado para as exportações brasileiras, crê o Itamaraty.

A redução mais forte das tarifas de importação entre os dois países é defendida também pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que considera "bastante limitado" o ACE-53, restrito a menos de 800 produtos, menos da metade dos quais comercializados sem pagar tarifas. Curiosamente, as vendas brasileiras totais ao México vêm crescendo a um ritmo maior que o das exportações dos produtos brasileiros beneficiados pelo acordo, o que, na avaliação dos empresários, mostra existir grande potencial para os exportadores do Brasil naquele mercado.