Título: Brasil usa mais, mas ainda paga muito
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2007, Empresas, p. B3

Apesar de pagar mais caro pela internet do que países ricos, o Brasil aumentou o número de assinantes de banda larga em 78,8% no ano passado e melhorou sua posição entre os países com maior número de usuários no mundo, segundo dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT).

O acesso à rede com alta velocidade e melhor qualidade está se tornando tão vital para os negócios que pode ser comparado a serviços públicos de água e eletricidade, alertam agências das Nações Unidas.

Pelos dados da UIT, no Brasil os assinantes de banda larga passaram de 3,3 milhões em 2005 para 5,9 milhões no ano passado. O país pulou da 13ª para a 11ª posição entre as 25 principais economias.

O preço por 100 Kbps por mês no país é de US$ 1,20 (0,42% da renda mensal do assinante médio), comparado a apenas US$ 0,08 na Coréia (0,02% da renda) e US$ 0,49 nos Estados Unidos (0,01% da renda mensal). Em dolar, o preço no Brasil aumentou - antes era de US$ 1,08 -, por causa da valorização do real. O Kpbs é uma medida de transferência de dados, equivalente a mil bits por segundo.

Em todo caso, alemães, japoneses, britânicos, franceses, italianos, canadenses e suecos pagam muito menos pela internet rápida que o brasileiro. Argentinos, mexicanos, russos, indianos e suíços pagam mais.

A taxa de disseminação de banda larga no Brasil cresceu de 1,8 para 3,1 assinantes por 100 habitantes, num ritmo ligeiramente maior que o da China (de 2,9 para 3,8). Na Coréia, essa taxa aumentou de 25 para 30. O mercado de banda larga continua dominado pelos países ricos, com 70% dos assinantes de serviços de acesso à internet rápida.

Sobretudo nos países ricos, cresce a adoção do modelo de preço fixo em lugar da cobrança por tempo de utilização. Essa tendência, segundo a UIT, é baseada na estratégia de baixar os preços dos serviços de internet para encorajar seu uso. Geralmente, o usuário paga menos por serviços ilimitados de banda larga do que no modelo de tarifa por minuto.

O crescimento do setor de informação e comunicação continuou no ano passado. O número total de linhas de assinantes fixos e móveis alcançou quase 4 bilhões, sendo 2,68 bilhões de assinantes de telefones celulares e 1,27 de linha fixa. Havia 1 bilhão de internautas.

Nos países em desenvolvimento, o custo mais acessível dos serviços e a melhor cobertura da rede alimentaram o forte crescimento dos serviços móveis. No total, os países em desenvolvimento representam 61% de todos os assinantes de telefonia móvel. A penetração de celular nesse grupo de países passou de 26% em 2005 para 34% em 2006. Na América Latina, cresce a substituição das linhas fixas de telefone por linhas móveis.

O crescimento mais rápido tem sido na China e Índia, que no primeiro trimestre deste ano acumulavam 200 milhões de novos celulares, sendo 110 milhões na Índia, onde os preços de serviços são particularmente baixos. O Brasil é outro país em que os negócios com celular tem sido impulsionados. Os mercados de telefonia móvel estão quase saturados nos países desenvolvidos. As próximas oportunidades vão ser a migração das redes 2G para 3G, com inovações multimídia e valor agregado no serviços.

Outra tendência é a privatização no setor de telecomunicações: nesse ponto, a América Latina dá o contraste, com nacionalizações na Venezuela e na Bolívia, que foram condenadas, ontem, pelo secretário-geral da UIT, Hamadoun I. Touré.

Entre 1990 e 2006, a privatização de operadoras públicas de telecomunicações nos países em desenvolvimento rendeu US$ 83 bilhões. Atualmente, 123 países têm um operador nacional privado ou em privatização.

Na contramão, a Venezuela de Hugo Chávez completou a nacionalização da CANTV, a maior empresa de telecomunicações do país, em maio. O governo aumentou sua participação para 86,25%, pagando US$ 572 milhões à companhia americana Verizon por sua fatia de 28,5% na empresa, tudo em nome do "novo estado socialista". O relatório da UIT lembra que Chávez foi um dos líderes da onda de privatização quando a CANTV foi vendida ao setor privado em 1991.

O governo da Bolívia anunciou, em abril, planos para nacionalizar a principal empresa de telecomunicações, a Entel, ex-estatal e hoje controlada pela Telecom Italia. A empresa controla 68% do mercado de longa distância e de celulares, e 90% do mercado de internet.

O relatório avalia que as operadoras de linhas fixas estão mais e mais expostas à concorrência de companhias de redes de banda larga sem fio, fornecedores de redes de televisão por cabo e grandes fornecedores de conteúdo pela internet, associados a grandes marcas e com meios financeiros consideráveis. Nesse cenário, as operadoras procuram cada vez mais abocanhar receitas publicitária associadas ao conteúdo produzido pelos próprios usuários. Ao mesmo tempo, operadoras de serviços celulares buscam novos fluxos de receita gerados pelas ofertas de conectividade ininterruptas a aplicações que utilizam muita banda larga como a recepção de sinais de TV por celular.