Título: Depois do Besc, BB agora estuda aquisição do BRB
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2007, Finanças, p. C5

O Banco do Brasil (BB) divulgou um fato relevante em que comunica a abertura de negociações com o governo do Distrito Federal para a aquisição do controle acionário do Banco de Brasília (BRB). Essa é a segunda investida do BB sobre bancos estaduais. Anteriormente, havia sido anunciada a abertura de entendimentos para a incorporação do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc).

O secretário da Fazenda do Distrito Federal, Luiz Tacca Júnior, disse que a prioridade no momento são as negociações com o BB, mas ele não descartou a possibilidade de adotar outras alternativas, como um leilão de privatização ou uma oferta pública de ações na Bolsa . "Tudo vai depender do preço oferecido pelo BB", afirmou o secretário.

Há cerca de dois meses, o governador do DF, José Roberto Arruda, anunciou que estudava um novo modelo para o BRB, que, segundo ele, fatalmente perderá valor a partir de 2011, quando os funcionários públicos vão ganhar o direito de escolher o banco em que recebem o salário. O maior ativo do BRB é a administração da folha de pagamento de 150 mil funcionários do DF.

Arruda disse, na ocasião, que estavam sendo contempladas quatro alternativas: deixar o banco como está; fazer uma oferta pública de ações; oferecer o BRB em um leilão de privatização; e a incorporação pelo BB. Tacca disse que o governo do DF chegou cogitar uma abertura do capital, oferecendo ações na Bolsa, como fez recentemente o Banrisul. "O Banrisul aproveitou uma janela de oportunidade", afirmou Tacca. "Mas as condições de mercado mudaram desde então."

Uma fonte do BB explicou que o processo irá seguir quatro etapas. A primeira delas ocorreu ontem, quando as duas partes decidiram oficialmente abrir negociações. O próximo passo será definir o modelo jurídico do negócio. O comunicado divulgado ontem informa que a operação de verá envolver a aquisição do controle acionário. Será, portanto, uma solução diferente da adotada para o Besc, onde a tendência é que ocorra uma incorporação, por meio da troca de ações. O Besc é um ex-banco estadual que foi federalizado, por isso a incorporação de ações se mostrou mais adequada. O BRB é controlado pelo governo do DF.

A terceira etapa das negociações será definir o preço do negócio. Em tese, poderão ocorrer dois pagamentos - um pelo controle acionário do BRB e outro pelo direito de administrar a folha de pagamento dos funcionários do DF. Para tanto, deverá ser contratada uma empresa que irá avaliar os ativos do BRB. A etapa final será decidir como as operações do banco do DF vão se juntar com as do BB. Nesse momento, será definido o futuro das agências, funcionários, sistemas e marca do BRB.

Segundos dados do Banco Central, o BRB tem 3,4 mil funcionários, 59 agências e 179 postos de atendimento bancário, quase todos localizadas no DF. O BB já é o principal banco em Brasília, com 90 agências. Apesar de vários pontos de atendimento serem serem muitos próximos, a avaliação de executivos do BB é que o BRB tem uma rede de agências bastante complementar.

A aquisição do BRB também é vista como um passo estratégico para evitar que os concorrentes privados avancem no mercado de Brasília, uma das rendas "per capita" mais elevadas do país. Pelo critério rede de atendimento, os principais concorrentes privados ficam bem atrás: o Itaú tem 33 agências, e o Bradesco, 31. Para os bancos privados, a aquisição do BRB poderia formar uma base para avançar no rentável mercado de funcionários públicos federais, no qual o BB tem a liderança, junto com a Caixa Econômica Federal (44 agências).

Nos últimos meses, o governador Arruda manteve uma série de encontros com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que recomendou que o BRB adotasse uma gestão mais profissional. Neste ano, já na gestão Arruda, o BRB teve a imagem associada a vários escândalos.

Ex-presidente da instituição, Roberto Figueiredo foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Navalha. Arruda nomeou para a presidência Laércio Barros Júnior, funcionário há 18 anos no banco, antes responsável pela área de controladoria.

O ex-governador Joaquim Roriz renunciou ao mandato de senador (PMDB) depois de ser pego em conversa telefônica gravada pela Polícia Civil do DF, na Operação Aquarela, combinando com Tarcisio Franklin, ex-presidente do BRB, a divisão de R$ 2,2 milhões em dinheiro vivo. O Ministério Público do DF denunciou Tarcisio Franklin de Moura por irregularidades em contratos de patrocínio.

Tacca diz que os escândalos não afetaram a imagem do BRB, que registrou lucro de R$ 37,5 milhões no primeiro semestre, o que equivale a um retorno sobre patrimônio líquido de 11,47%. O BRB não sofreu, porém, ajustes como outros bancos estaduais.