Título: Energia domina visita de Lula aos nórdicos
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2007, Brasil, p. A5

Energia, energia e... energia. Esses são os principais temas da viagem de cinco dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos países nórdicos: Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega. Sim, há outros assuntos, como investimentos, PAC, comércio e meio ambiente. Mas nenhum deles é tão imediato e em nenhum o papel do governo é tão fundamental como em energias renováveis.

O presidente chegou ontem, pouco antes das 19 horas (horário local), a Helsinque, capital da Finlândia, primeira etapa da viagem. Veio acompanhado de três ministros: Celso Amorim (Relações Exteriores), Miguel Jorge (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia).

Lula se reúne hoje com a presidente finlandesa, Tarja Halonen, com o premiê Matti Vanhanen e participa de um seminário empresarial, que reunirá empresários e autoridades dos dois países. Esses seminários serão realizados em todas as etapas da viagem. Está é a primeira visita de Estado de um presidente brasileiro a esses quatro países. Já houve visitas anteriores, mas como parte de reuniões multilaterais.

Lula já esteve na região como líder sindical. Nessa viagem, ele se encontrará com os presidente das centrais sindicais da Suécia e da Dinamarca, com as quais o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) mantêm uma relação antiga.

O principal interesse em termos de energia renovável é certamente o etanol. A Suécia é o único dos quatro países a ter uma frota de veículos a álcool (são cerca de 45 mil veículos movidos a E85, uma mistura de 85% de etanol e 15% de gasolina). O programa é altamente subsidiado, mas interessa à indústria sueca. O país já compra etanol do Brasil, mas tende a ampliar a importação pois a produção local é muito cara.

Os demais países também importam um pouco de etanol brasileiro, que é acrescentado à gasolina. Mas devem elevar as importações nos próximos anos para atingir a meta da União Européia e suas metas próprias de utilização de biocombustíveis. A meta da UE para 2010 é que os biocombustíveis representem 5,75% do total consumidos pelos veículos.

Para isso, Suécia, Dinamarca e Finlândia (que são membros da UE) apóiam a redução da tarifa de importação que hoje limita a entrada de etanol brasileiro no bloco europeu. Os países nórdicos também desejam o estabelecimento de um mercado mundial de etanol, que criaria normas válidas internacionalmente e estimularia a produção. Na Suécia, haverá um seminário acadêmico-empresarial sobre biocombustíveis.

Autoridades de países da região manifestaram ao Valor preocupação com o desmatamento no Brasil para o plantio de cana, apesar de o governo brasileiro insistir em que é possível elevar a produção usando terras hoje ociosas. Segundo um executivo finlandês, é provável que a Europa venha a exigir um sistema de auditoria externa das condições ambientais e sociais da produção de cana e etanol no Brasil, conforme cresça a utilização do biocombustível.

Além da assinatura de acordos de cooperação entre os governos, empresas e instituições desses quatro países devem acertar negócios e pesquisa com parceiros brasileiros, incluindo a Petrobras. Uma área com muito potencial é a do etanol de segunda geração.

Do lado nórdico, há interesse em vender várias tecnologias de energia renovável ao Brasil. Na Finlândia, a empresa de petróleo Neste pretende se tornar nos próximos anos a maior produtora européia de biodiesel (vem crescendo muito na UE a venda de veículos a diesel). A Dinamarca propõe seus moinhos de vento para energia eólica e sistemas mais eficientes de geração de energia convencional a partir de combustíveis fósseis. Todos os países têm programas avançados de uso de biomassa (resíduos agrícolas ou florestais). Com a Noruega, um dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo, há negócios em discussão entre a Petrobras e empresas norueguesas.

Mesmo sendo pequenos em termos de população (a população somada não chega a 24 milhões), os países nórdicos são importantes investidores no Brasil. Cerca de 350 empresas desses países atuam no Brasil, incluindo gigantes como Nokia (Finlândia), Stora-Enso (Finlândia e Suécia), Maersk (Dinamarca), Norsk Hydro (Noruega), Ericsson (Suécia). Na viagem, Lula e ministros apresentarão a empresas nórdicas opções de investimento no PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.

Apesar disso, o comércio entre o Brasil e esses países ainda é pequeno. Somou US$ 3,8 bilhões em 2006, representando 1,7% do comércio exterior brasileiro. O Brasil só teve saldo positivo com a Noruega. Mas houve aumento de 80% das trocas desde 2003, observa o governo brasileiro. A pauta de importação brasileira é diversificada e pulverizada. As exportações estão mais concentradas em produtos básicos e o desafio, segundo o governo brasileiro, é incluir itens de maior valor agregado. Recentemente, por exemplo, a Finnair, empresa aérea finlandesa, comprou aviões da Embraer.

No tema ambiental, a Dinamarca, que vai sediar uma importante reunião sobre mudança climática em 2009, busca apoio do Brasil para que o encontro seja uma cúpula de chefes de Estado e de governo.