Título: Ásia e América Latina reforçam os seus laços de comércio
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2007, Internacional, p. A11

Um dia depois de a presidente do Chile, Michelle Bachelet, ter assinado em Tóquio um tratado de livre comércio com o Japão, o governo de Cingapura anunciou ontem que finalizou as negociações com de um tratado semelhante com o Peru. As duas iniciativas são parte de um amplo e crescente impulso de aproximação entre América Latina e Ásia, que, segundo, especialistas, deve se acentuar ainda mais nos próximos anos.

Os países mais ativos na aproximação das duas regiões são, de um lado, China, Japão e Coréia do Sul, e, de outro, Chile, Peru e México. Todos eles membros da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), cuja reunião de cúpula ocorre neste fim de semana em Sidney, na Austrália.

O clube, que reúne 21 países e movimenta cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, quer retomar uma antiga meta - sem data definida - de estabelecer uma zona de livre de comércio que abranja desde Papua Nova Guiné até o Peru, segundo esboço do relatório do encontro, que veio à tona ontem.

Mas os interesses mútuos de asiáticos e latino-americanos extrapolam as fronteiras da Apec.

"É tão evidente a relevância da Ásia que, para a maioria dos países, seria uma insensatez deixá-la de lado", diz o embaixador Roberto Jaguaribe, sub-secretário geral de Assuntos Políticos para a Ásia, África e Oceania do Ministério das Relações Exteriores.

No mês passado, Brasília sediou o 3º Foro de Cooperação América Latina-Ásia do Leste (Focalal) e, entre as conversações, uma reuniu representantes do Mercosul e da Asean (que reúne dez economias asiáticas). Segundo Jaguaribe, a reunião "pode também levar a uma aproximação comercial."

Entre os latino-americanos, o Chile está à frente no que diz respeito à aproximação com Ásia. Além do tratado de livre comércio assinado com o Japão esta semana, durante visita da presidente Michelle Bachelet a Tóquio, o Chile já havia aprovado no início do ano um tratado de livre comércio com a China. O Peru segue a mesma trilha com as negociações encerradas ontem de um acordo com Cingapura. Em 2006, o comércio entre os dois países totalizou US$ 45,2 milhões. O acordo permitirá ainda que empresas dos dois lados participem de algumas concorrências públicas.

O México, outra economia ativa na aproximação com a Ásia, já tem um acordo com o Japão e negociação com Cingapura um novo tratado transpacífico.

"Nos ano 90, a América Latina foi a região do mundo que mais fechou acordos regionais e extra-regionais. Entre eles, México e União Européia (UE), Chile e UE e Nafta. A Ásia se tornou na última fronteira de aproximação", diz Maurício Mesquita Moreira, economista do Departamento de Comércio e Integração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Mas o interesse manifesto por governos na aproximação das duas regiões enfrenta pressões e posições defensivas de ambos os lados, diz Moreira. "O pano de fundo dessa movimentação de aproximação é uma certa idéia de divisão do trabalho, segundo a qual a América Latina só exporta recursos naturais e a Ásia, manufaturados", afirma ele. No caso do Chile, - cuja principal produto da pauta de exportação é o cobre -, essa idéia não causa muitos problemas, mas em relação a economias com um indústria mais desenvolvida, como Brasil, Argentina e também o México, a situação é outra. "As duas regiões ainda são muito protecionistas e essas questões dificultam as relações comerciais", diz Moreira. Em agosto, na mesma semana do encontro de cooperação entre América Latina e Ásia, Brasil e Argentina anunciaram medidas contra importações chinesas em nome das indústrias nacionais.