Título: Indústria mantém ritmo forte apesar da queda em julho
Autor: Sergio, Lamucci; Raquel, Salgado
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2007, Brasil, p. A3

Nelson Perez/Valor Silvio Sales, coordenador da pesquisa do IBGE: câmbio estimula importação de componentes em alguns setores da indústria, como o automobilístico A produção industrial brasileira manteve forte ritmo de crescimento em julho, com altas de 6,8% sobre julho de 2006 - na maior taxa desde dezembro de 2004 - e de 5,1% no acumulado do ano, apesar da retração de 0,4% verificada na comparação com junho. A expansão industrial no ano foi acompanhada pelo aumento das importações, que supriu parte da demanda interna aquecida, embora tenha afetado alguns segmentos, na avaliação do coordenador de Indústria do IBGE, Silvio Sales. Nos primeiros sete meses de 2007, as importações cresceram 27,9% em valores e 23,2% em volume.

Sales ressalta que as importações têm ajudado a complementar o consumo interno e a aumentar a capacidade produtiva da economia, mas têm prejudicado a atividade de ramos mais sensíveis à concorrência externa, como os eletroeletrônicos e os semiduráveis (calçados e vestuário). O câmbio valorizado, afirmou Sales, estimulou a importação de componentes como os utilizados pela indústria automobilística, em franca expansão de produção doméstica. Já os bens de capital (máquinas e equipamentos) apresentaram a maior alta no acumulado do ano em relação aos demais gêneros da indústria, com alta de 17%, e ainda registraram aumento de 26% nas importações em valores. "Isso reflete o ânimo das empresas em contratar investimento. Neste caso, as importações estão complementando essa demanda", disse o coordenador do IBGE.

Para o economista Douglas Uemura, da LCA Consultores, "o ambiente interno favorável, com renda, crédito e investimentos em alta, mascara parte do efeito cambial negativo sobre alguns segmentos industriais", especialmente semi e não duráveis, com alta de 3% no ano, abaixo da média da indústria.

Os semiduráveis, mais afetados, fecharam os sete primeiros meses de 2007 em alta de produção de apenas 0,5%, enquanto as vendas de tecidos, vestuário e calçados no varejo apresentaram aumento de 10,1% até junho, o que reflete a forte entrada de produtos fabricados no exterior. "Sem o impacto dos importados, o desempenho industrial poderia estar mais forte", afirmou Uemura.

Na interpretação do coordenador do IBGE, a retração de 0,4% entre junho e julho, após nove meses seguidos de alta, é uma "acomodação" que não inverte a trajetória da expansão industrial. "Os indicadores são favoráveis a um cenário de crescimento da atividade, puxada pela demanda interna", disse Sales. A queda ocorreu 12 das 23 atividades, mas foi concentrada em apenas quatro ramos - refino de petróleo, álcool, açúcar e farmacêutico. "São produtos e segmentos cuja produção costuma oscilar mais", disse o coordenador do IBGE.