Título: Governo já acompanha aumento de preços em serviços e alimentos
Autor: Safatle, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2007, Brasil, p. A4

A demanda está aquecida, a economia está respondendo a esse fato com aumento dos investimentos e com o crescimento das importações, mas há grande preocupação, no governo, com a remarcação de preços no setor de serviços. Técnicos da área econômica estão acompanhando com lupa as pressões inflacionárias decorrentes do aumento do consumo, da pressão dos preços alimentos e, também, da forte elevação dos preços dos serviços (que reúnem itens como aluguel, cabeleireiro, mensalidades escolares, condomínio e consertos de automóveis). Estes são mais sensíveis ao aumento da demanda porque não têm como serem substituídos por bens vindos do mercado internacional.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo está vigilante com a inflação e tem medidas a tomar. Avisou que o sinal é "amarelo", mas acha que o próprio desaquecimento da economia mundial, esperado como decorrência das recentes turbulências nos mercados financeiros, ajudará a dissolver os aumentos de preços de alimentos. Além do mais, lembrou o ministro, há espaço para acomodar uma inflação maior na meta de 4,5% para este e para os próximos anos.

"Alguns preços estão sendo afetados. Até agora, é um sinal amarelo e o governo tem medidas para tomar", avisou Mantega, em entrevista após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A elevação dos preços da cesta básica em cerca de 16 Estados, capturada pelo Dieese, segundo ele, decorre principalmente do período da entressafra e do aumento das cotações das commodities.

"A inflação, antes, estava nos 3,5% e o centro da meta é 4,5%. Estávamos num patamar de inflação um pouco baixo. Essa aproximação ao centro não chega a ser trágica. Temos de ver se persiste por um ou dois meses", avaliou o ministro. Ele acha, também, que a turbulência financeira "está na direção oposta à do aumento de preços" e aguarda uma retração do consumo nas economias internacionais e, consequentemente, dos preços nos mercados externos de alimentos e demais commodities. "Isso é algo esperado, não temos de nos precipitar", assinalou.

O aumento dos serviços revelado pelo IPCA-15 foi de 0,51% em agosto, em comparação com os 0,27% em julho e avalia-se, no governo, que parte das pressões sobre esse segmento da economia estaria sendo produzida pelo aumento dos salários sobretudo da mão-de-obra mais qualificada.

Junta-se a isso o aumento da oferta de crédito para pessoas físicas e a redução da taxa média de juros cobrada pelo crédito direto ao consumo, para configurar um cenário de ressurgimento de focos de inflação preocupantes. A participação do crédito no produto interno saltou 3,7 pontos percentuais de junto para julho, situando-se, agora, em 32,7% do PIB.

Como reação às pressões inflacionárias vindas dos alimentos, anunciou a redução da tarifa de importação do trigo, para baratear o preço do produto ao consumidor final. Mas sabe que essa é uma medida de eficácia limitada, já que boa parte do trigo importado vem da Argentina, com tarifa zero de importação. O que encarece o produto, para os moinhos brasileiros, é o imposto de exportação cobrado pelo governo do país vizinho. Ao colocar esse produto na lista de exceção da Tarifa Externa Comum (TEC), o ministro Guido Mantega estaria criando alternativas para o país importar de outros mercados.

Há espaço para o aumento das importações no balanço de pagamentos, mas técnicos da área econômica lembram que para manter as contas externas sadias, o ideal é que as importações cresçam na mesma medida que o aumento das exportações, no longo prazo. Não é sinal de problema, por um curto período de tempo, o país conviver com importações mais elevadas que o ritmo de crescimento das vendas externas e que isso se transforme até em déficit em conta corrente num ano, para virar superávit no outro.